Qual foi a última vez que você conseguiu acompanhar as notícias do futebol feminino pelas mídias tradicionais? Para os fãs do esporte essa lacuna ainda não foi 100% preenchida e, muitas vezes, fica difícil conseguir informações sobre atletas, campeonatos e jogos.
Antes de tirar conclusões precipitadas sobre o porquê da falta de espaço midiático dedicado ao esporte feminino, é preciso entender o papel da imprensa. A mídia exerce uma grande influência sobre as pautas que direcionam o nosso dia a dia. Ela não é necessariamente capaz de dizer para as pessoas o que pensar sobre um determinado assunto, mas sobre quais assuntos pensar. Dessa forma, os grandes meios de comunicação acabam colocando valores subjetivos no momento em que escolhem as notícias e na forma com que vão tratá-las. O resultado para o grande público é simples: o que não é visto não é lembrado, ou simplesmente não existe.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Minnesota mostrou que as mulheres representam 40% de todos os atletas profissionais nos Estados Unidos e, ainda assim, recebem entre 2 e 4% da cobertura midiática. No Brasil, apenas 2,7% da cobertura da mídia é focada no esporte feminino, 37 vezes menos do que no masculino. Além do espaço midiático ser pequeno, a imprensa parece estar menos interessada no desempenho esportivo quando se trata de atletas mulheres. De acordo com um estudo realizado pela Universidade de Cambridge, entre as palavras mais utilizadas pela mídia para falar dos homens estão “mais rápidos”, “vencer”, “grandes” e “fortes”. Já as mulheres são comumente referidas como “mais velhas”, “solteiras”, “grávidas” ou “casadas”.
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Não é papel da mídia julgar o físico das esportistas, mas ainda assim alguns veículos preferem retratá-las fora de campo, em poses sexualizadas e escrevendo matérias sobre a aparência física delas. Um exemplo recente que ficou conhecido foi uma nota de 2012 em relação à tenista Maria Sharapova, quando ela ainda era a número 1 do mundo. Após vencer um jogo difícil e chegar às oitavas de final do Torneio de Wimbledon, o site do jornal Extra preferiu noticiar “Musa de Wimbledon, Maria Sharapova exibe celulites em fotos comprometedoras”. Pois é, até quando teremos que lidar com esse tipo de abordagem? A boa notícia é que nos últimos anos os veículos de imprensa têm começado a mudar a forma como cobrem o esporte feminino.
Não se trata apenas de dar mais espaço, mas perceber as inúmeras possibilidades que existem. Os fãs de esportes, em geral, não estão preocupados com o gênero da modalidade. O que eles querem é acompanhar grandes jogos, partidas, histórias de superação, títulos e conquistas. Para tanto, existe uma infinidade de histórias de mulheres esportistas esperando para serem exploradas. Os jornalistas que percebem isso conseguem sair do lugar-comum e enriquecem o repertório do seu público. As mulheres já tiveram que brigar durante séculos pelo direito de praticar esporte, o mínimo que se espera é que a mídia acompanhe esse progresso e as respeitem como atletas.
Texto de Gabriela Matos.