Foto: Pedro H. Tesch/AGIF
Se existe um fato acerca do futebol é que a tática tem se tornado o principal objeto de estudo de treinadores e membros de um staff técnico. Mas será que o jogo é meramente tático? Há quem diga que sim, sem dúvida! Há também quem faça uma divisão da forma desportiva, como disse Paulo Autuori, entre técnica, tática, física e mental. Existem diversas formas de tentar se entender este esporte, mas existe algo um tanto quanto sutil que ainda se tenta estudar e há pouca informação em comparação com os demais pilares do futebol: a estratégia!
Estratégia e tática são duas palavras que causam ainda uma certa confusão sobre as suas definições, ainda mais no esporte. Etimologicamente, as duas palavras têm origens gregas stratēgía e taktikē, porém os seus conceitos diferem quando olhamos para estas duas palavras em português. Segundo o dicionário Michaelis, Tática se define pela “arte de empregar as tropas no campo de batalha com ordem, rapidez e recíproca proteção, segundo as condições de suas armas e do terreno”;
Já a Estratégia tem por definição algo mais rebuscado quando afirma que “se ocupa do equacionamento tático das operações e movimentações de um exército tendo em vista conquistar uma vitória ou lograr condições vantajosas para vencer um inimigo; manobra ou artifício engenhoso”. Nitidamente, as duas palavras têm origens militares/bélicas, onde se pressupõe um conflito e a busca pela vitória sob polarização de dois adversários. Mas, voltando à sua aplicação no futebol, podemos assumir que a estratégia é um aspecto da tática, talvez um pouco mais detalhista e imprevisível.
Não é de se estranhar que os aspectos táticos do futebol estão extremamente evoluídos. Licenças e cursos para treinadores se preocupam, quase em sua totalidade, no desenvolvimento tático. E a estratégia do jogo? Por onde começar? Aliás, você já ouviu falar sobre um curso para treinadores que tenha a palavra “estratégia” envolvida? Curioso, não?
De forma bem direta, a tática, como vimos anteriormente, se resume fundamentalmente na gestão espaço-temporal do jogo, seja ela ofensiva ou defensivamente, e está relacionada a algo já estudado previamente, treinando e aprimorando ao longo dos seus microciclos. Estratégia visa aproveitar oportunidades oferecidas pelo jogo a partir de soluções criativas e inovadoras previamente experimentadas capaz de superar as análises realizadas pelo adversário, uma vez que estão fora do script tático.
Além disso, tem como objetivo obter vantagens sobre o adversário através de uma manobra, interpretando a sua definição ao futebol. Veja bem! Obter vantagens não é forçar nenhum tipo de anti-jogo! Não significa simular faltas ou o goleiro cair para “queimar tempo”! Estratégia são informações inteligentes e criativas que podem ser passadas ao jogador sem que se treine necessariamente, mas que se tenha o intuito de surpreender o adversário, ludibriando a sua atenção. Estas podem ser individuais, coletivas ou até mistas.
Estratégia na prática
Por exemplo: um jogador se encontra sob forte marcação adversária de dois ou mais jogadores na linha lateral ou próximo do escanteio. Para manter a posse de bola, uma das opções é forçar a situação da bola bater no adversário e sair pela linha lateral (ou linha de fundo).
Assim, irá manter a posse de bola sob seu domínio. Mas convenhamos, quantas vezes iremos treinar esta situação específica? Pode ser que aconteça no treino da semana (pelo fato da estratégia possuir uma natureza de relativa previsibilidade), mas, se pararmos o treino para falar desta ocorrência, será de forma muito breve com o intuito de dar mais uma informação aos jogadores.
Quer uma prova de como estamos com o “copo cheio” de táticas e “copo vazio” de estratégias de jogo? Quantos jogos recentemente vimos um placar muito alargado (com três ou mais gols de diferença, por exemplo) e que, de uma hora pra outra, leva uma reviravolta acabando o jogo com um empate ou vitória do adversário que anteriormente estava perdendo?
O jogo possui características que são mutáveis ao longo do jogo! Via de regra, os comportamentos táticos não se alteram (ou não deviam se alterar ao longo de uma partida), mas os comportamentos estratégicos, sim! A estratégia de uma equipe quando está empatando o jogo 0x0 é uma. Com 3×0 de vantagem é outra.
Uma vez que a minha equipe está vencendo o jogo por 3×0, a responsabilidade de pontuar é toda do adversário! Então como eu posso fazer para, como já vimos, obter condições vantajosas para alcançar o objetivo final? Mantendo a posse de bola é uma ótima sugestão. Além de fazer o “tempo correr” fazendo ele “jogar a nosso favor”, irá estressar o adversário, cansa-lo mentalmente, abrindo mais espaços. Se por acaso marcarmos mais um gol, ótimo! Caso contrário, estamos em controle do jogo e não perdemos de vista a vitória.
Este exemplo me remete muito ao estilo de jogo de Guardiola. Com sua posse de bola, é difícil (ou quase impossível) ver suas equipes vencendo por um placar alargado e ceder o resultado até o final dos 90 minutos.
Da mesma forma que falamos sobre a bola pressionada na lateral, o placar a favor, podemos também pensar na utilização de estratégias para obter vantagens ou se proteger a partir de cartões (amarelos ou vermelhos), espaços a se ocupar e obter vantagens. Se pensarmos sobre o jogo, temos uma nova imensidão de momentos estratégicos a se descobrir. E por falar nisso, sabemos que existem infinitas maneiras para se vencer um jogo. Para se perder, também. Qual a sua?
Texto de Leonardo Monteiro
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