Fernando Diniz está preparado para treinar a Seleção?

(Foto: Mailson Santana – FFC)

Discute-se no atual momento do futebol brasileiro, quem deverá ser o substituto de Adenor Bachi, o Tite, como treinador da Seleção Brasileira. Desde logo alinham-se 3 nomes, dois estrangeiros – Carlo Ancelotti e Abel Ferreira – e um brasileiro – Fernando Diniz -, atual treinador do Fluminense, o qual, presentemente, atinge o seu melhor desempenho.

Nos próximos textos do FootHub, se a contratação do coach pela CBF não se concretizar antes, pretendo discorrer sobre as características de cada um dos cogitados, apontando as qualidades e problemas que cada um enfrentaria, segundo nossa cultura e os anseios dos brasileiros que antes de pensar no coletivo valorizam a qualidade individual dos atletas , o futebol vistoso mas nem sempre competitivo.

Começo minha análise focalizando Fernando Diniz, defendido por muitos, por praticar futebol propositivo e com boa elaboração, mas também criticado por outros tantos, que invocam o argumento da falta de equilíbrio (entre atacar e defender) que gera baixa competitividade nas suas equipes, afora o fato de que ele não ganhou títulos importantes na carreira, credencial que esses críticos entendem fundamental, para sua entronização como treinador da Seleção Brasileira.

Pessoalmente, Diniz não seria meu preferido (manterei suspense sobre minha preferência até o próximo artigo),porém vejo nele aptidões importantes para o exercício da função, embora pequenas ressalvas sempre presentes no currículo de qualquer profissional.

Começo minha análise, confrontando a assertiva de que Diniz não conquistou títulos importantes na carreira, iniciada lá atrás em em 2009 no Votoraty na Série A3 Paulista, passando depois pelo Paulista de Jundiaí, Botafogo de Ribeirão Preto, Atlético de Sorocaba, Guaratinguetá, Paraná Clube, Osasco Audax, Athletico Paranaense, Fluminense (2019), São Paulo (2019/2021), Santos (2021), Vasco (2021 em apenas 12 jogos) e finalmente Fluminense a partir de 2022, quando substituiu Abel Braga, onde permanece até hoje, em cuja gestão conquistou seu único título relevante, o Campeonato Carioca de 2023, vencendo ao flamante Flamengo em final de 2 jogos, perdendo o primeiro por 2X0 e massacrando o rival no segundo por 4X1.

Foto: Celso Pupo/ Fotoarena/ Agência O Globo

Sempre que manifesto opinião sobre qualquer tema, ainda mais polêmico como esse, gosto de usar exemplos do passado que possam respalda-la, assim, no tocante a ausência de títulos importantes na carreira do treinador paulista, hoje no pó de arroz carioca, saliento que a recente conquista estadual protagonizada por seu time, sobre o rubro-negro da gávea, nas condições em que ocorreu, mesmo sendo seu primeiro galardão, o coloca na galeria dos profissionais credenciados a voos mais altos.

Do passado extraio a carreira vitoriosa de Mário Jorge Lobo, ZAGALLO, talvez o maior treinador da Seleção Brasileira de todos os tempos, o qual antes de treinar o escrete nacional em 1970, foi treinador apenas do Botafogo, campeão da Taça Guanabara de 67 e 68 e o Campeonato Carioca de 67 e 68, títulos que semelham ao atual obtido por Diniz pelo Fluminense. Na época Zagallo foi inovador, pois o seu Botafogo, jogava com 3 jogadores no setor do meio campo (Carlos Roberto, Gérson e Paulo César Caju) ocasião em que a maioria dos clubes, e a própria Seleção Brasileira de então, treinada por João Saldanha, atuava em 4-2-4.

Logo, a ausência de títulos importantes não seria problema, já que nosso maior treinador de seleções nacionais, foi galgado ao posto em questão, tendo vencido apenas e tão somente campeonatos cariocas, tal como Fernando Diniz.

O argumento da falta de equilíbrio de seus times, já é mais ponderável, pois o histórico do treinador indica times vulneráveis defensivamente, seja pela forma de sair jogando, com risco demasiado (utilizando o goleiro), seja pela forma de marcar, (muito adiantada), ou ainda por adaptar atletas de setores mais avançados da equipe em funções de contenção, o que nem sempre deu certo.

Em temporadas anteriores, era comum ver seus times com 65% de posse de bola, amargando revés com contundentes goleadas em seu desfavor, quase sempre por saídas de bola de forma equivocada com arriscada utilização de goleiro e zagueiros em lances muito próximos a sua área, ou por praticar marcação muito adiantada, concedendo generosos espaços para os adversários contra atacarem.

Mas Fernando Diniz evoluiu, aprendeu, fortaleceu seu setor defensivo, abandonou a saída de bola curta com goleiro e zagueiros, aperfeiçoou sua marcação sob pressão no campo do adversário, as ações de seus atletas de ataque e meio campo nas retomadas pós-perda da bola passaram a ser sufocantes e contundentes.

Foto: Getty Images

Diniz trata-se de um treinador de estratégia autoral, propositiva, na medida que usa fundamentos do basquete, futsal e futebol campo para implementar suas ações táticas.

Sua saída de bola jamais se fez  por “chutão”, e hoje aperfeiçoada (sem utilização demasiada do arqueiro) sucede com o volante próximo ao goleiro, abrindo os zagueiros para os lados da grande área, afundando laterais abertos até a linha central do campo, com isso tentando superar a marcação pressão dos adversários através de passes horizontais buscando espaço para passes verticais para seu segundo estágio que consiste na armação das jogadas (fundamentos do basquete).

Superada essa primeira linha obstrutiva do adversário, utiliza a chamada paralela cheia, agrupando vários jogadores em um dos lados do campo, de 5 a 6 atletas, onde tem superioridade numérica em relação ao adversário ,trocando passes de forma rápida, com rotação constante de seus atletas (o ponta meia do lado oposto, o lateral do lado, o segundo volante, o meia armador e ponta meia do lado), mantendo dentro da área o centroavante e o lateral do lado oposto.

Essa movimentação constante, com ultrapassagens, infiltrações, troca rápida de passes, maioria de atletas no setor (como se faz no futsal) , desconcerta o adversário, permitindo espaços e penetrações nas costas da zaga adversária, em posição de penúltimo passe, gerando condições de finalização letal.

Na perda da bola, os mesmos atletas que propõem o jogo, já se obrigam a pressionar o adversário para reaver a bola ou truncar o jogo, para que não haja contra ataque, com a equipe fora do lugar. No Fluminense de hoje dois atletas são fundamentais para a retomada pós perda; Nino, zagueiro viril, rápido, dominante na retomada mano a mano e o volante André, ótimo marcador, ótimo passador, colocado sempre por trás desse quinteto que povoa a “paralela cheia”, ou servindo de desafogo para transitar a bola, ou servindo como combatente para a recuperação da bola perdida.

 Foto: Lucas Merçon / Fluminense FC

Apenas para constar, registro que com a posse de bola em poder do adversário, as equipes de Diniz se postam em formato 4-4-2, com todos os atletas atrás da linha da bola, compactando sua linha defensiva. Sinale-se que, atualmente, é o time da Série A que menos gols levou desde o início do ano.

Efetivamente, o Fluminense de Diniz passou a ser a equipe de futebol mais vistoso e competitivo do futebol brasileiro, pois o treinador antes tido como romântico na tentativa de preservar posse de bola as vezes inócua, outras vezes em zonas de acentuado risco, trocando apenas passes laterais, agora tornou-se mais pragmático, com defesa compacta e marcação incessante em todos os setores do campo.

O sucesso obtido pelo esquadrão tricolor nos dias atuais, não esconde vulnerabilidades apresentadas pela forma de jogar, principalmente quando enfrenta adversários que também marcam por pressão alta, coibindo a saída de bola pó de arroz, na sua linha média defensiva, ou que concentre o mesmo número de atletas no quadrante do campo povoado com 5 ou 6 atletas por Diniz, e ali comentam marcação intensa e incessante.

A perda da bola com grande número de jogadores postados num dos lados do campo, e por isso desprotegendo o lado oposto, permite ao adversário, que tenha atacantes rápidos, retomar a bola e contra-atacar em velocidade no quadrante despovoado do gramado, praticamente oferecendo um constante mano a mano entre atacantes e defensores o que muitas vezes traz consequências nefastas. A pressão pós perda pelo tricolor tem minimizado esse problema, porém a situação não pode ser esquecida e o treinador deve aumentar alternativas de proteger-se nesse aspecto.

Um outro grande problema que Fernando Diniz enfrentaria, caso venha tornar-se treinador da seleção canarinho, seria o curto espaço de tempo para convivência e treinamentos  com atletas e profissionais (essencial para implantação da sua metodologia); somente as datas Fifas, com jogos pré-agendados, em meio a viagens às vezes desgastantes. Essa ressalva é importante, pois de todos é sabido que a forma de jogar desse profissional não prescinde de adaptação e longo espaço para treinamentos e repetições.

Por fim, na Seleção Brasileira, Fernando Diniz enfrentará outros treinadores de escolas estratégicas, conhecedores do ofício, sábios, experimentados, e por isso poderá ter contra si, outros e variados contra-venenos que até aqui os treinadores brasileiros não identificaram.

Concluo dizendo não ser desarrazoada a ideia de Fernando Diniz ser treinador da Seleção Canarinho do Brasil.

Texto de Fernando Carvalho.

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