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As pedras no caminho do futebol brasileiro

No meio do caminho tinha uma pedra. Não foi à toa que Drummond repetiu esta sentença por alguns versos e chegou até a mencionar que não esqueceria este acontecimento na vida de suas retinas tão fatigadas. Coitado daquele que anda sem olhar para o chão do desconhecido, as pedras surgirão a todo momento e sem avisar. 

Tinha uma pedra no meio do caminho. Muitas vezes a estrada que temos que percorrer é muito bem pavimentada e nos arrebata a sensação de que sempre vai ser dessa forma. Fácil, estável. Mas nunca é. Os obstáculos irão aparecer. São mais eficientes em demonstrar sobrevivência que qualquer batimento do seu coração. Se você vê pedras, está vivo. A instabilidade é inimiga da monotonia.

Tinha uma pedra. E continua tendo. Não uma. Não duas. Milhares delas esperando o exato momento de desconcentração, da negligência iminente que acostumamos a vivenciar dentro da nossa realidade. As tragédias anunciadas que de raridade passaram a ser rotina, assolando o futebol brasileiro praticamente todo ano. O que mais impressiona é a falta de capacidade de aprender com o erro do outro, por vezes até com o próprio erro. É um fantasma que no menor descuido, volta para te assombrar novamente.

No meio do caminho tinha uma pedra. Ela não vem de um lugar desconhecido. As pessoas escolhidas para comandar, a forma de comando, a ausência de leitura dos contextos. O clube é o lobo do próprio clube, já diria Hobbes. Foi assim com a grande maioria dos gigantes que tropeçaram nas dificuldades criadas pelos mesmos. A bola de neve que não se improvisa. 

Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra. É assim que o torcedor, aquele que se identifica, sofre, apoia e é o maior patrimônio da instituição, se sente. Traído, inconsolável. Não pelas derrotas em si, mas pela forma que o seu amor é tratado, ou melhor ignorado. E vem deles também a força para se curar deste tropeço no futuro próximo. Eles são o clube. Tinha uma pedra no meio do caminho.

E esta pedra não é o fim, cair é só o primeiro passo de um processo longo. Se levantar é difícil, principalmente sendo um gigante. As dificuldades de hoje estarão amanhã, depois de amanhã, depois. Como com qualquer vício a luta é infindável e demanda tempo, determinação e suor, suor este que, se tudo der certo, em algum momento regará o solo para transformar as pedras em plantas e o caminho estará florido novamente.

Texto de Pedro Heitor, do Los Futebólicos.

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