Reflexão sobre a forma de gerenciamento deste período sensível da formação de atletas
A partir da leitura do cenário de iniciação no país e do deslocamento do processo de iniciação ao futebol para os clubes, faz-se necessário refletir sobre a forma de gerenciamento deste período sensível da formação de atletas. Cabe ressaltar, que os resultados esportivos futuros (em termos de futebol de base), transição de atletas a equipe profissional e o surgimento de novos atletas em potencial, passam pelo entendimento e investimento por parte dos clubes, neste processo inicial da categoria de base.
Neste sentido, acredito ser fundamental promover um ambiente próprio para o desenvolvimento dos atletas em todos os aspectos. O processo de formação adequado, deve ofertar: profissionais capacitados e com perfil para trabalhar com estas faixas etárias, processos metodológicos adequados, acompanhamento de uma rotina saudável e de desenvolvimento dos atletas, a busca constante por talentos (captação pontual e efetiva), o trabalho interdisciplinar entre as áreas, um bom fluxo e organização dos processos internos e a estrutura física e material próprias para o ensino e treino do futebol.
Nesta fase inicial, assim como em toda a carreira esportiva do atleta, acredito que o desenvolvimento dele, passa por uma tríade: família-atleta-clube. Possuir uma base familiar forte e segura é fundamental para o suporte ao atleta em todas as situações presentes no dia a dia, sejam elas positivas e/ou negativas. O clube passa a ser a via de desenvolvimento de vários aspectos que vão além do campo e relacionam-se diretamente com a escola, na tarefa de educar, sociabilizar e construir um ambiente próprio para o ensino do futebol.
Além disso, é fundamental promover a identificação de todos os envolvidos (atletas, familiares, colaboradores e agentes) com a cultura e o contexto do clube. O ambiente do clube precisa ser receptivo, positivo e desafiador, pensando no desenvolvimento individual dos atletas e de todos os envolvidos. Ao promover a identificação e o sentimento de pertencimento ao projeto do clube ao qual se faz parte, acredito que todos estarão imbuídos em construir um cenário positivo para um legado esportivo a longo prazo.
Ao pensarmos na construção de um atleta, da iniciação a performance, para que este possa gerar retorno esportivo e financeiro ao clube, é preciso estar ciente de todas as obrigações e leis que cercam o processo de formação e os aspectos relacionados aos clubes formadores. Destaco neste ponto, o quanto o clube deve-se preocupar com as condições oferecidas para que os atletas possam se desenvolver, onde cada detalhe poderá fazer a diferença em um futuro atleta de alto nível e um cidadão de bem para a nossa sociedade.
Conforme a legislação vigente, os atletas só podem residir no clube (alojar) e assinar o seu primeiro contrato de formação com remuneração a partir dos 14 anos completos. Este fato implica em diversos fatores, tais como a questão social, a captação e a gestão do processo de chegada e saída de atletas. Atualmente, a FIFA reconhece para fins de percentuais de transferência e mecanismo de solidariedade, o vínculo do atleta com o clube formador, a partir dos 12 anos de idade. Neste sentido, atualmente a maioria dos clubes brasileiros, tem buscado realizar o registro de iniciação dos seus atletas, que é realizado via BID-CBF, a partir dos 12 anos completos de cada atleta. O vínculo de iniciação é renovado anualmente e pode ser assinado somente até o final da temporada vigente.
Ao possuir o registro dos atletas, pode-se buscar futuramente percentuais de direitos de formação e transferências, sendo assim uma possível fonte de receita em longo prazo, mesmo para aqueles atletas que não cheguem a equipe profissional. Além disso, o clube pode estar minimamente resguardado em relação aos assédios de outros clubes e agentes, presentes no mercado do futebol.
Muito se fala, da ausência do surgimento de novos craques em quantidade e qualidade no futebol brasileiro, porém, como podemos perceber, são vários pontos de atenção que cercam a formação dos atletas da iniciação a alta performance, onde cada clube hoje possui as suas diretrizes e o seu contexto de trabalho.
Nota-se no cenário brasileiro, uma abertura e interesse de investimento na iniciação ao futebol nos clubes e este é um nicho de mercado que ainda tende a crescer exponencialmente. Portanto, acredito ser fundamental, a todos os envolvidos no processo formativo, refletirem sobre suas práticas e atitudes, pois uma boa gestão desta fase inicial, terá impacto em toda a cadeia formativa.
Texto Produzido por: Marcelo Freitas Prestes
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