
Desde a aprovação da Lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), em 2021, uma transformação importante vem ocorrendo no futebol brasileiro. O modelo permite que clubes se tornem empresas, abrindo espaço para captação de recursos, modernização administrativa e profissionalização — desafios que são especialmente grandes para equipes das Séries C e D. A seguir, examinamos como esse processo tem se desenrolado para clubes menores: o que mudou, quem aderiu, quais impactos já se veem e que obstáculos ainda persistem.
Panorama geral: adoção da SAF no Brasil
- Até o final de 2024, 63 clubes do Brasil haviam adotado o modelo de gestão SAF.
- Em 2025, esse número continuou a crescer; estimativas apontam para mais de 100 clubes com SAF formalizada.
- A Série D é a divisão onde mais clubes empresas estão presentes em termos absolutos, embora muitas ainda não estejam com receitas grandes ou estrutura robusta.
- Nas Séries mais altas (A e B), o percentual de clubes corporativos também aumentou, favorecendo ganhos em visibilidade, patrocínios, possibilidade de dívidas sendo refinanciadas etc.
Adoção nas Séries C e D: quem já virou SAF e quem está em processo
Série C
Alguns clubes da Série C já se transformaram em clube empresa ou estão em processo de adoção. Exemplos:
- Já como SAFs: Figueirense, Londrina, Maringá.
- Em processo: Náutico, Ituano, Botafogo-PB.
- No total, segundo levantamento recente, há 6 clubes da Série C que adotam o modelo corporativo atualmente: Botafogo-PB, Brusque, Londrina, Maringá, Figueirense, São Bernardo.
Série D
- Série D, entre seus participantes, conta com 19 clubes SAF dos 65 participantes.
- Exemplos incluem América-RN, Azuriz, Barcelona-BA, Boavista, entre outros.
Exemplos de casos e impactos práticos
- Maringá
Subiu para a Série C apenas depois de virar SAF, e isso permitiu maior fluidez ao montar elenco e pagar dividas com menos atrasos ou problemas financeiros. - Botafogo-PB
Está em transição para se tornar um clube empresa, aguardando formalização que deve ocorrer em breve. Isso indica que clubes da Série C veem esse modelo como caminho para maior previsibilidade financeira. - Investimentos em infraestrutura e elenco
Alguns clubes, ao se tornarem SAFs, conseguiram pactuar com investidores ou abrir capital para captação de recursos, o que facilita não só contratações mas melhor gestão de categorias de base, de centro de treinamento, de estádios etc. Alguns casos de clubes empresas da Série D já estão investindo para tentar acesso à Série C.

Estatísticas que mostram os efeitos
- Dos clubes da Série C, cerca de 6 já são empresa (como mencionado). Esse número representa uma parcela importante da divisão, mas ainda minoritária; muitos clubes ainda operam sob o modelo associativo ou com dívidas acumuladas.
- No Brasil todo, dos estados, 8 ainda não têm clubes SAFs: Acre, Alagoas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí e Rondônia.
- Há uma preocupação legislativa: clubes do modelo corporativo se manifestam contra possíveis aumentos na taxação para esse modelo. Eles defendem que alíquotas elevadas desestimulam investimentos.
Benefícios e desafios para clubes menores
Benefícios
- Acesso a capital: com investidores, clubes podem saldar dívidas ou fazer adiantamentos de receitas, reformar instalações, melhorar centros de treinamento, contratar com mais segurança.
- Gestão profissional: maior transparência, governança mais clara, responsabilidade com custos, contratos e salários.
- Capacidade de disputa: times que se tornam SAFs, ainda que com escassez de recursos, conseguem concorrer melhor em Série C ou Série D, nem sempre para subir imediatamente, mas ao menos com menos risco de inadimplência.
Desafios
- Custo de conversão: o processo legal, estatutário, de adequação às normas exige custos — tanto em tempo quanto em dinheiro.
- Encontrar investidores dispostos: especialmente em Série D ou clubes com pouca visibilidade, convencer alguém a investir pode ser difícil. O retorno não é imediato.
- Risco tributário: mudanças legislativas, sobretaxação, regulamentações incertas (por exemplo, impostos sobre SAFs) podem desmotivar investidores.
- Manutenção da identidade: há resistência de torcedores, conselheiros, associados em mudar o modelo de clube tradicional para empresa — custo político que muitos clubes enfrentam.
Análise: SAF realmente muda a realidade?
Sim — há evidências de que o modelo está mudando realidades, sobretudo para clubes menores:
- Clubes que viraram SAF têm, em média, condições melhores de planejamento de elenco, capacidade de negociação de patrocínios e de gestão financeira.
- Alguns tiveram acesso a campeonatos com mais segurança orçamentária.
- O modelo reverteu crises financeiras em clubes grandes (ex: Cruzeiro, Botafogo), mostrando que o modelo pode funcionar também em menor escala.
Por outro lado, nem todos os clubes SAF “dão certo” imediatamente — há casos de SAFs que continuam sofrendo com dívidas ou desempenho esportivo fraco. O modelo é uma ferramenta, não uma solução garantida.
Cenário para o futuro próximo (2025–2026)
- É esperado que mais clubes na Série C completem o processo de adoção da SAF. Náutico, Botafogo-PB e outros estão em processo ou negociação.
- Na Série D, clubes que já se tornaram SAFs devem tentar estruturar-se para subir, aproveitando ganhos de receitas com marca, patrocínio, bilheteria, streaming, etc.
- Mudanças legislativas serão um ponto de atenção — se impostos aumentarem demais, se houver instabilidade tributária ou burocrática, o modelo pode perder força em clubes menores.
- Modelo híbrido ou com participação comunitária poderá ganhar espaço (ex: modelos onde o torcedor/investidor minoritário tenha participação ou voz). Isso aparece em alguns projetos recentes, como o do Fluminense.
Conclusão
A adoção da SAF tem se demonstrado como uma importante via para clubes das Séries C e D buscarem profissionalização, estabilidade financeira e melhoria de estrutura. Ainda que existam muitos obstáculos — financeiros, culturais, legislativos — já se veem clubes menores aproveitando esse modelo para escapar de ciclos de instabilidade, atrasos salariais e dívidas.
O sucesso varia: para alguns, a SAF representa uma virada; para outros, ainda é experimentação. Mas o cenário indica que o modelo deixará de ser exceção e se tornará cada vez mais uma opção viável, especialmente para quem deseja sair das divisões inferiores com mais sustentabilidade.
Texto de Bernardo Moreira
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