
Vivemos no Brasil uma necessidade de transformação dos agentes de formação de novos atletas de futebol, uma relação que tenho notado, no dia a dia da base, que é o “normal” do futebol a cobrança por desempenho e resultado.
Bem, vejamos um cenário comum da categoria de base, quantos atletas dispensamos, que durante muito tempo, mostrou projeção, qualidade técnica e desempenho, porém um determinado período na sua formação, isso ficou um pouco mais baixo do que era apresentado. Me pergunto, será que o atleta perdeu essas valências, ou erramos em algum período na formação dele que deixamos de detectar algum problema pessoal, social, cognitivo…
A multidisciplinaridade no contexto formativo é importante para que se minimize esse tipo de problema, quando temos profissionais de diversas áreas, conseguimos reduzir essa perca de desempenho por algum motivo que passaria despercebido somente se olharmos pelo lado técnico futebolístico.
Eu quero provocar a todos nos que lidamos com formação de talentos no brasil para o alto índice de atletas vivendo momentos psicológicos difíceis, não só na base. Isso de fato é um retrato do adoecimento mental humano dos últimos anos, que tem avançado em diversos setores da sociedade, porém temos que ter ferramentas para blindarmos e combatermos esse problema dentro da formação de atletas em nossas bases.
Tem ocorrido, já tratando do meu dia a dia de clube, casos de atletas precisando desse acompanhamento psicológico. Interessante frisar que existem vários agentes ocasionadores de tais danos: pais, cobrança por resultados, expectativas que muitas vezes é maior do que o atleta pode suportar, muitos desses garotos já carregam nas costas a responsabilidade de ser o futuro provedor de uma família inteira.
Isso me provoca ainda mais a inclusão dos pais nesse processo de formação, eles são agentes propulsores no desempenho do atleta em campo se forem bem orientados, cabe a nós como clubes, oferecer essa orientação e acompanhamento.
Muitos atletas vivem dentro do lar condições sociais de negligência paterno/materno que refletem na conduta do atleta no grupo, com comissão técnica, com a cobrança ou exigência de cumprimento de normas. Entender o contexto social de cada atleta que chega em nosso núcleo de formação é um processo difícil, desafiador, porém recompensador.
É gratificante recuperar um atleta que se perdeu um pouco na sua formação, que em um determinado momento sofreu influência externa que bloquearam sua curva preditiva de sucesso. Você como agente formador, junto com sua equipe multidisciplinar, conseguir discernir onde está o problema e conseguir, nesse contexto, fazer com que esse atleta se encontre como ser humano e atleta.
Bimestralmente os atletas têm passado por acompanhamento psicológico, pedagógico e de assistência social? Se tratando de clubes com maior poderio financeiro, a resposta será sim. Clubes como o meu, com menor condição, isso se torna mais difícil, porém quero alertar que essa condição é tão importante quanto ter um treinador bom, bom gramado para treinar e uma boa periodização técnica a seguir.
Treinadores/formadores, vocês têm uma contribuição enorme nessa construção, sendo bem relacionados com seus atletas em formação, entendendo e sentindo o contexto social que eles estão inseridos, isso vai ajudar também a vocês a discernirem melhor tudo que está inserido no processo de formação.
Falar tecnicamente sobre centro de formação de base, em como captar, desenvolver, projetar atletas, para muitos aqui seria chover no molhado, diante disso, minha intenção é chamá-los a essa reflexão social e humana na formação de atletas no brasil. Quanto mais comprometidos em cuidar não só da questão técnica/tática de atletas, mas também das questões psicossociais deles, teremos uma formação realmente assertiva.
Posso dizer com certeza, ser um grande formador é quem consegue compreender o ser humano com mais qualidade e injetar nesse ser humano a resiliência precisa para usar as dores externas em combustível para o campo.
Texto de Tácito Pegado

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