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Reprodução: Aventuras do Conhecimento

No futebol de alto rendimento, entender o quanto e como um atleta está sendo exigido vai muito além de simplesmente contar quilômetros percorridos. Hoje, o cruzamento entre dados objetivos (como os do GPS e da frequência cardíaca) e subjetivos (como a percepção de esforço) permite uma visão mais completa da carga de trabalho dos jogadores. Essa integração de informações é fundamental para individualizar treinos, minimizar riscos de lesões e otimizar o desempenho ao longo da temporada.

O GPS fornece informações sobre a carga externa, ou seja, mostra com precisão o que o jogador executou em campo: quantos quilômetros correu, quantos sprints realizou, quantas acelerações e desacelerações acumulou, entre outras variáveis. Já a frequência cardíaca representa a carga interna de forma fisiológica.

Monitorada durante as sessões, ela revela em tempo real como o jogador responde ao esforço. Por fim, o PSE é uma medida subjetiva, mas extremamente relevante, visto que é a percepção do atleta quanto ao esforço realizado, que multiplicado pela duração da sessão, gera um indicador de carga percebida.

O cruzamento dessas informações revela dados importantes. Um exemplo na prática é que um jogador que percorreu grande distância e realizou muitos sprints, mas apresentou uma frequência cardíaca baixa e relatou esforço leve, provavelmente está muito bem fisicamente. Por outro lado, um atleta que teve um treino mais leve considerando os dados do GPS, mas mostrou frequência cardíaca e PSE elevados, pode estar dando sinais de fadiga ou estresse acumulado.

Esses dados são fundamentais para a tomada de decisões, permitindo ajustar o volume e a intensidade dos treinos de forma individualizada, identificar atletas em risco de sobrecarga e até antecipar medidas preventivas para minimizar riscos de lesões. O acompanhamento dos dados de GPS e frequência cardíaca em tempo real possibilita ajustar a carga de treino buscando atingir os objetivos da sessão com maior precisão.

Exemplos práticos

Ilustrando de forma prática a utilizando destes dados, trago a seguir os resultados de um estudo recém publicado por Riboli e colaboradores na revista “Journal of Strength and Conditioning and Research” – uma das principais revistas científicas da área – no qual 25 atletas profissionais de futebol foram monitorados ao longo de uma temporada em competições da UEFA, com o objetivo de analisar a relação entre a carga de treinamento (CT) acumulada semanalmente e as demandas físicas dos jogos na mesma semana.

Os principais resultados do estudo foram: a carga total semanal (ou seja, treinos e jogos) foi maior em jogadores titulares do que em não titulares, devido à maior demanda dos jogos, sem diferença nos treinamentos; a carga acumulada de treinos de corrida em velocidade muito alta e sprints apresentou influência positiva na distância total, corrida em alta e muito alta velocidade, sprints e acelerações e desacelerações nos jogos oficiais.

A partir destes resultados, os autores indicam que para otimizar o desempenho físico de jogadores de futebol ao longo da temporada, é essencial considerar as variações entre semanas com dois ou três jogos e a carga total (treino + jogo) para uma prescrição de treino adequada ao longo da temporada. Além disso, é fundamental ajustar o volume e a intensidade dos treinos de forma individualizada, utilizando estratégias como corridas em velocidades muito altas (entre 20 e 24 km/h) e sprints (acima de 24 km/h), principalmente nos jogadores reservas, a fim de compensar a baixa carga de jogo.

Além disso, o gerenciamento da carga semanal é fator importante para melhora do condicionamento físico e para reduzir a variabilidade entre as semanas (fator que está relacionado ao aumento do risco de lesões). A quantidade de corrida em velocidade muito alta e sprints mostraram forte associação com as demandas físicas dos jogos oficiais, sendo indicadas como principais medidas para o planejamento de treinos visando a melhora do desempenho físico.

Para isso, os autores apontam que é possível utilizar jogos em campos maiores (aproximadamente 300 m²/jogador), exercícios posicionais e corridas específicas para simular as exigências dos jogos. No entanto, quando o objetivo for reduzir a carga física sem perder a complexidade técnica, campos menores podem ser utilizados.

Em outro estudo, publicado em 2020 no “International Journal of Sports Medicine”, Gualtieri e colaboradores monitoraram 20 jogadores da Premier League durante dois mesociclos de 21 dias. As diferenças encontradas entre titulares e reservas foram no tempo de exposição (total em minutos na semana, somando jogo e treino), esforço percebido e distância total, enquanto que distância total relativa, distância em alta velocidade (>20 km/h) e em velocidade muito alta (>25 km/h) não foram significativas.

O estudo conclui que, durante períodos com muitos jogos, os titulares apresentam maior tempo de exposição, maior percepção de esforço, maior distância total percorrida e maior distância em velocidades muito altas (acima de 80% da velocidade máxima) do que os não titulares.

Figura do estudo – Gualtieri et al. Int J Sports Med. 2020

Diferente do estudo anterior, é possível observar que neste houve diferença na carga de treinamento para atletas titulares e reservas, conforme figura abaixo (barras brancas maiores para reservas em todas as variáveis analisadas). No entanto, vale destacar que, mesmo com carga compensatória, os jogadores reservas apresentaram esforço percebido e carga total menores em relação aos titulares, mostrando que a demanda de jogo foi superior não somente em dados objetivos, como também na percepção subjetiva dos esforços relatada pelos atletas.

Considerações finais

Os estudos apresentados reforçam a importância de uma abordagem individualizada e integrada no controle da carga de treinamento no futebol profissional. Mais do que seguir protocolos padronizados, é preciso considerar a resposta individual do atleta às diferentes demandas da temporada. Além disso, o equilíbrio entre estímulo e recuperação, especialmente para atletas não titulares, é essencial para manter o elenco em alto nível físico e competitivo.

Texto de Gabriela David

O FootHub anuncia o curso “Nutrição no Futebol – Por onde começar”,

Um conteúdo que mostra os principais aspectos de atuação de um profissional da área dentro de um clube de futebol, seja liderando o próprio departamento ou na relação com outros profissionais do clube, atletas e até mesmo seus familiares.

O curso tem como professora Lenice Carvalho, nutricionista esportiva voltada para a área do futebol, com mais de 18 anos de experiência em clubes. Lenice iniciou sua trajetória ainda na década de 1990 no Grêmio Football Porto-Alegrense, onde permaneceu por cerca de 7 anos.

No início dos anos 2000, chegou ao Internacional, onde ficou por 12 anos, contribuindo com diversos títulos do clube como duas Libertadores e o Mundial de Clubes. Atualmente presta consultoria na área, além de realizar algumas assessorias individuais. 

O curso Nutrição no Futebol – por onde começar é dividido em três temas principais. O primeiro deles trata de pilares da rotina de um nutricionista de clube, desde aspectos da estrutura do clube, o calendário de jogos e treinos, planejamento alimentar e de suplementação e também aspectos relacionados aos atletas do clube. 

O segundo módulo tem como foco a relação do nutricionista com o Executivo de Futebol, e quais as principais formas de construir uma relação positiva com o departamento de futebol de maneira geral.

Para finalizar, o curso aborda a relação entre a nutrição e o atleta, mostrando a importância de dar atenção a área para ter uma carreira de sucesso, além da participação da família e amigos nesta jornada.

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