Atire a primeira pedra aquele que é um ser humano no sentido pleno e completo da palavra. Mais do que isto, aquele que seja a representação ideal do seu próprio ser. Tenho quase certeza de que terminarei este pequeno escrito fisicamente intacto.
Digo isso não pela imperfeição das pessoas, mas pela complexidade da vida, se baseando num processo não linear de formação que dura a eternidade (e mais um pouco). Ninguém está livre desta condição. A plenitude é um conceito utópico e sem precedentes, a não ser da figura onipotente, onipresente e onisciente que nos dirige (se você acredita, é claro).
Mas a impossibilidade de se colocar no patamar da perfeição do ser não quer dizer que devemos desistir da evolução, visto que é essa motivação que nos leva a lugares por ora inalcançáveis, seja na vida pessoal ou profissional.
Nos esportes, por refletir boa parte das situações que a sociedade se encontra, isso acontece de forma acentuada. O atleta tem um processo ininterrupto de maturação que só se encerra, na maioria dos casos, no fim da sua carreira, quando já não é mais tão exigido.
Desta forma, é imprescindível que esse desenvolvimento se inicie ainda na infância, para que alguns conceitos básicos sejam apreendidos de forma didática e ao mesmo tempo lúdica.
Esportes praticados nas primeiras fases de crescimento proporcionam um entendimento maior do jogo no futuro, mesmo que no fim, o esporte escolhido não seja aqueles testados no passado.
Isso se deve pela interseccionalidade entre as modalidades, sejam elas coletivas ou individuais.
O futebol incorpora conceitos e elementos de muitos lugares. Como é o caso da diferenciação das defesas em zona ou individual, muito presentes no futebol americano.
No homônimo ao norte observamos também as bolas cobertas e descobertas.
O futsal tem influência direta na movimentação dos atletas em espaços curtos, bem como dribles e conduções. Do handebol e do basquete, utiliza-se os balanços defensivos e ofensivos iminentemente presentes em qualquer partida que você escolha assistir.
Essas semelhanças não se resumem aos esportes coletivos. A individualidade do tênis, por exemplo, nos conduz para a forma com que os passes são escondidos para enganar o adversário da mesma forma que o tenista esconde o seu movimento do opositor. Fora as mudanças rápidas de direção.
Tudo isso que citei permanecem na memória do atleta e faz com que ele incorpore essas situações para o futebol. Isso quer dizer que o jogador será mais completo? Provavelmente não, afinal ainda não temos (e nem creio que teremos) o controle de tudo nesse processo de formação.
Porém ter essas ferramentas pode fazer com que a tomada de decisão e o entendimento do jogo se torne menos difícil do que já é.
Um bom exemplo do supracitado é o quarterback do Kansas City Chiefs, Patrick Mahomes, provavelmente a maior estrela da NFL atualmente.
Ele teve grande parte da sua adolescência jogando beisebol, o que o possibilita fazer lançamentos mais complexos que a maioria dos demais companheiros de posição.
No Brasil, por muito tempo o futebol de rua foi a ferramenta de redução desses limites impostos pelo subdesenvolvimento.
O que se vê é a sociedade caminhando para um ponto onde será cada vez menos possível a existência dessa ferramenta. No fim, é importante que tanto formadores quanto educadores estimulem as práticas de esportes ou atividades lúdicas não só nas categorias de base mas também no ensino básico, pois querendo ou não, aprender se torna muito mais interessante acompanhando de divertimento.
Texto de Pedro Heitor do Los Futebólicos.