
Foto: JR Panela
Embora o presente texto não tenha como propósito aprofundar-se nos fundamentos do treinamento esportivo, da pedagogia do esporte ou nos componentes cognitivos e nas capacidades motoras inerentes ao desenvolvimento do atleta, reconhece-se que existem distintas correntes de profissionais vinculados às modalidades Futebol e Futsal que advogam pela necessidade de uma formação multiesportiva.
Tais correntes sustentam que, além da prática sistemática e planejada do Futsal, a inserção de vivências esportivas diversificadas — formais/sistematizadas e não formais — constitui elemento estruturante para um processo formativo mais completo, coerente com os princípios pedagógicos anteriormente mencionados.
Segundo Araújo e Davids (2011), a participação em diferentes esportes, pode fortalecer as capacidades adaptativas dos atletas, fornecendo uma plataforma para um desempenho habilidoso no esporte.
Já Steve Kerr (2019), comenta que há muito mais benefícios em praticar vários esportes, e o mais importante é que eles podem expandir seu conjunto de habilidades e desenvolver uma melhor coordenação.
Wormhoudt (et al., 2018) considera que um programa projetado para aumentar a versatilidade de movimentos será benéfico para crianças e adolescentes que jogam Futebol.
Sobre a prática simultânea de várias modalidades podemos considera que:
“As crianças devem experimentar uma variedade de atividades físicas e esportes, mesmo que os padrões de movimento necessários não pareçam ter uma relação específica com um esporte-alvo específico. Podem ser projetadas para envolver-se com tarefas abertas em uma variedade de ambientes, do mais variado a mais específico.”
(Wormhoudt et al. 2018)
Para entender o conceito do esporte formal e não formal no Brasil, optou-se pela definição da escrita na Lei Federal Nº 9.615, em seu Art. 1º e parágrafos:
“O desporto brasileiro abrange práticas formais e não–formais e obedece às normas gerais desta Lei, inspirado nos fundamentos constitucionais do Estado Democrático de Direito. § 1o A prática desportiva formal é regulada por normas nacionais e internacionais e pelas regras de prática desportiva de cada modalidade, aceitas pelas respectivas entidades nacionais de administração do desporto. § 2o A prática desportiva não-formal é caracterizada pela liberdade lúdica de seus praticantes.”
(BRASIL,1998)
No contexto brasileiro, observa-se que os clubes e demais ambientes formativos, formais ou informais, recorrem a um conjunto de práticas amplamente reconhecidas por sua contribuição ao desenvolvimento motor, perceptivo, cognitivo e socioafetivo dos jovens atletas. Essas práticas podem ser categorizadas da seguinte maneira:
→ Práticas formais/sistematizadas – pés:
Futsal, Futebol 7 e/ou Futebol Society, Beach Soccer, Futevôlei, entre outros;
→ Práticas formais/sistematizadas – gerais:
Capoeira, Basquetebol, Handebol, Atletismo, entre outros;
→ Práticas não formais – pés:
Futebol de Rua/Street, Futebol na Areia, Futebol em campinhos de terra ou grama, entre outros.
Conforme apontado por diversos autores da literatura especializada, a participação do jovem em múltiplas modalidades esportivas configura-se como um importante fator de enriquecimento motor e cognitivo, repercutindo positivamente no processo de formação no Futebol de Base. Todavia, destaca-se que, mesmo diante dessa perspectiva multiesportiva, o Futsal é aqui considerado a prática central a ser implementada no percurso formativo do futebolista, especialmente devido à sua elevada densidade de estímulos técnico-táticos, cognitivos e perceptivo-motores.
Conforme afirma (Paoli, 2020):
“Tradicionalmente as modalidades são entendidas isoladamente, perdendo essa oportunidade de interação por meio de um fluxo intenso de transferência de conceitos, comportamentos, princípios. O Futebol é distinto do Futsal devido as suas dimensões do campo, regras e outros aspectos. Nesse momento existe uma circunvizinhança maior.”
Próspero Paoli
Dessa forma, apresenta-se, a seguir, um QUADRO que sintetiza a possibilidade de integração entre Futsal, Futebol e outros “futebóis” — formais ou não formais — no contexto do desenvolvimento esportivo do jovem atleta em clubes de Futebol. Tal organização visa demonstrar a amplitude de estímulos possíveis dentro de uma estrutura formativa contemporânea, orientada para a otimização do potencial individual e para a valorização das expressões culturais que caracterizam a formação do jogador brasileiro.

QUADRO – Possibilidades de práticas de outros “Futebóis” direcionados aos jovens atletas de um Clube de Futebol, nos processos de Futebol de Base
Convém que todos os agentes envolvidos nos processos aqui descritos abram mão de posturas preconcebidas e priorizem a investigação e a reflexão crítica antes de emitir opiniões ou tomar decisões — a favor ou contra — acerca da prática simultânea entre Futsal e Futebol nas categorias de base, especialmente quando tais decisões impactam faixas etárias precoces, devendo sempre estar alinhadas ao projeto esportivo e ao planejamento estratégico da instituição.
*Texto de Rodrigo Neves – adaptado do livro de minha autoria “O Segredo do Futebol Brasileiro – Futsal e Futebol de Base”.

ESTÃO ABERTAS AS INSCRIÇÕES para a edição 11 do curso Executivo de Futebol!
📅 Início: Abril de 2026
💻 Aulas online e ao vivo via Zoom
🎓 Certificado reconhecido pelo mercado
📘 Conteúdos práticos, estudos de caso, curadoria de materiais e muito networking.
Não perca essa chance. Garanta sua vaga agora mesmo!



