Durante muito tempo as finanças dos clubes brasileiros foram completamente ignoradas por seus torcedores. Tudo que importava era a taça no armário. Esse comportamento está mudando aos poucos. Primeiro, os balanços financeiros e os resultados anuais, começaram a ganhar relevância nas redes sociais. Desde o ano passado, o tema evoluiu e trouxe para a pauta os orçamentos dos clubes, a projeção de receitas e despesas que cada instituição faz para o início do ano. Com algumas falhas na montagem deste documento, o orçamento é uma das lições que os clubes precisam aprender para ter um 2021 mais tranquilo, com menos chances de atrasar salários e aumentar suas dívidas.
Este é o primeiro texto de uma trilogia que irá trazer algumas lições que o futebol brasileiro viu em 2020 e devem ser aplicadas neste ano para melhorar o ambiente do esporte como um todo por aqui. Os próximos textos saem ainda nesta semana.
Falhas nos orçamentos
O aspecto mais questionado na montagem do orçamento é referente às perspectivas que cada clube possui para sua temporada dentro de campo. As instituições inserem em suas peças orçamentárias valores de acordo com a fase que acreditam alcançar em cada competição, o que muitas vezes dá errado. Em 2020, por exemplo, o Flamengo projetava atingir a final da Copa do Brasil e a semifinal da Libertadores. Nenhuma das metas foi atingida, diminuindo a arrecadação do rubro-negro com premiações e um possível aumento no número de sócios.
Enquanto isso, o Grêmio vem há alguns anos sendo mais tranquilo neste assunto, sem projetar avanços mesmo nas competições de mata-mata. Isso não quer dizer que o clube não acredita no seu sucesso, ou não quer avançar nas competições. No entanto, fica mais viável controlar suas despesas a partir de um orçamento mais conservador, aproveitando os avanços para melhorar o elenco no médio prazo.
Outro ponto importante a ser tratado por aqui é a venda de atletas. Nos principais países da Europa, a negociação de jogadores surge como uma forma extraordinária de arrecadação, não sendo considerada nas principais análises financeiras como o ranking da consultoria Deloitte. Já no Brasil, ocorre justamente o contrário. A venda de jogadores é uma receita fundamental para alguns clubes fecharem o ano com superávit ou uma dívida menor.
O principal exemplo nesta área é o São Paulo. O tricolor paulista tem como política de gestão utilizar os altos valores recebidos com a negociação de jogadores para reduzir o impacto de altas despesas. No orçamento de 2021, a previsão é de receber R $176 milhões com a venda de seus jovens atletas. Além de impedir um trabalho de médio prazo com estes jogadores, o clube mostra ao mercado que tem necessidade de vender para sobreviver, o que pode prejudicar a instituição em algumas negociações.
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Além destas duas questões, os orçamentos do ano que está começando possui algumas particularidades. A primeira corresponde aos valores que os clubes irão receber como premiação do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores, que têm suas últimas partidas disputadas no começo do ano. Isso pode inflar os orçamentos, mas deve ser tratado como algo eventual, que não irá acontecer no futuro (assim esperamos!). Um bom exemplo disso é o América-MG, equipe de orçamento modesto mas que recebeu R $17 milhões como premiação por chegar até as semifinais da Copa do Brasil.
Em contrapartida, também existirão alguns custos extras, já que muitas instituições diluíram salários e direitos de imagem de seus atletas ao longo de 2021 para diminuir os impactos da pandemia em suas finanças.
Retorno dos torcedores
Um outro tópico é a grande dúvida em relação ao retorno dos torcedores aos estádios. O cenário no país não parece positivo, e uma volta, ainda que de um percentual do estádio, parece ser algo distante. Alguns clubes incluíram em seus orçamentos uma receita com bilheteria. O Flamengo foi o mais ousado, com valores de chegando na casa de R $100 milhões, ou seja, 100% do Maracanã liberado já em abril. Enquanto isso, o São Paulo foi totalmente conservador e não incluiu em suas projeções qualquer receita a partir da venda de ingressos no Morumbi.
Por fim, vale destacar que os orçamentos servem para mostrar as transformações que o futebol brasileiro começa a presenciar em relação ao nível competitivo de alguns times. O principal caso é o da dupla cearense, Fortaleza e Ceará, que já havia apresentado em 2020 os maiores orçamentos de sua história, tendência que se repete para 2021. O tricolor projeta uma receita de R $113 milhões, enquanto o alvinegro espera arrecadar R $151 milhões.
Que este texto sirva para que dirigentes e torcedores façam uma reflexão sobre seus orçamentos, não apenas em relação às receitas, mas também quanto aos custos e investimentos. Estes, mais fáceis de controlar, são também os mais necessários de permanecerem em um nível que auxilie os clubes a passarem por 2021 com tranquilidade e uma projeção positiva para os anos seguintes.
Texto de Equipe FootHub.