Este é o primeiro de uma série de textos que estão por vir voltados para a Eurocopa, que começou na última sexta-feira (14). Infelizmente, por questões logísticas e de disponibilidade de tempo, não será possível esmiuçar detalhadamente todos os jogos. Com isso, a ideia desta série é trazer um panorama mais geral de cada rodada. Os destaques, as surpresas e as histórias escritas pelos personagens dos jogos.
Roubaram a cena
Alemanha 5×1 Escócia – Grupo A Eurocopa 2024
Foto: Fabrice Coffrini/AFP
Quem vê apenas o placar, imagina um jogo de um time só… e é exatamente o que foi. Porém, antes de a bola rolar na Allianz Arena, em Munique, os alemães precisaram encarar os fantasmas das eliminações precoces nas duas últimas copas do mundo e lidar com todo o peso de jogar em casa, diante das expectativas e sonhos de seu povo.
10 minutos bastaram para a desconfiança dar lugar a euforia e mudar o psicológico alemão. O que se seguiu após o gol de Florian Wirtz foi um atropelo. Ou melhor, um espetáculo, já que Toni Kroos era o maestro que ditava o ritmo da apresentação, desfrutando de seus últimos jogos antes de encerrar uma carreira histórica e brilhante.
A variedade de movimentos da Alemanha, sobretudo no último terço do campo, foi a chave que destrancou o ferrolho proposto pela Escócia, que baixou seu bloco de marcação, organizando-se defensivamente em um 5-4-1. Com Kroos baixando próximo aos zagueiros e sendo protagonista nas primeiras fases construções, coube a Gundogan, Musiala, Wirtz e Havertz se movimentarem entre a primeira e a segunda linha da Escócia, provocando dúvidas e confundindo a marcação escocesa. E fizeram com maestria
Alternando entre movimentos de ruptura e de apoio, os 4 conseguiram manipular a marcação da Escócia e abrir espaços cruciais para que a Alemanha encontrasse e explorasse vantagens no último terço. A Alemanha soube tornar fácil um jogo que poderia ter se mostrado desafiador, sobretudo do ponto de vista psicológico. Uma vitória essencial, imponente e que trás ainda mais o torcedor pra perto de um elenco que dispõe de muita qualidade. Os alemães deram as boas-vindas a todos os seus visitantes…
Espanha 3×0 Croácia – Grupo B Eurocopa 2024
Foto: Christophe Simon/AFP
Um dos jogos mais esperados da fase de grupos. De um lado, uma Espanha que busca retomar a dominância dos anos 2008-2012. Do outro, uma Croácia que provou toda a sua qualidade e competência nos dois últimos mundiais. Uma reunião de craques e um placar que indica solidez. Mas até que ponto um placar pode explicar uma partida?
As duas equipes adotaram estratégias e comportamentos diferentes, seja nos momentos com ou sem a bola. Nos minutos iniciais, o plano espanhol se sobressaiu. Subindo seu bloco de marcação e pressionando de forma agressiva, a Espanha conseguia recuperar e ter mais a bola, seja para circular e trabalhar a posse, seja para acelerar o jogo buscando seu trio de ataque (sobretudo os pontas em situações de 1×1).
Os primeiros 10/15 minutos foram de domínio espanhol, mas que não se traduziu em gol. Após esse período, a Croácia tomou as rédeas da partida, reduzindo a velocidade do jogo e passando a controlar a posse de bola. Por bons minutos os croatas ditaram o ritmo do jogo e deram aos espanhóis um incômodo e até desconhecido desafio: correr atrás da bola. E foi nessa que saiu o gol… da Espanha.
Por ironia do destino, a Espanha abre o placar no seu momento mais desconfortável na partida. Um lançamento da Croácia é afastado pela defesa da Espanha, que conquista a segunda bola no meio de campo e rapidamente aciona Morata, que rompe em profundidade, sozinho, e abre o placar. O gol devolveu as rédeas do jogo à Espanha, que não as soltou mais. Outros dois gols e jogo definido antes do intervalo. Um placar exagerado pelo que foi o jogo? Talvez. Mas a fúria espanhola deu seu recado.
As surpresas
Turquia 3×1 Geórgia
Foto: Ozan Kose/AFP
Turquia e Geórgia fizeram o melhor jogo da 1ª rodada. Garanto que você nunca pensou em ouvir essa frase em um contexto de Eurocopa. Esse é o tamanho da surpresa. E desde já, ofereço meus pêsames para aqueles que perderam essa obra-prima de partida. Por alguns momentos, era possível confundir o jogo com o os mais intensos filmes de ação, daqueles que arrancam o fôlego do telespectador.
A Turquia venceu, mas poderia ter perdido. A Geórgia poderia ter empatado e também sofrido mais gols. Assim foi esse grande jogo. Peço licença para deixar um pouco de lado as nuances táticas e estratégicas do jogo, pois acredito que sua beleza esteve no caos. Um caos talvez organizado, mas ainda sim um caos.
Uma montanha-russa de emoções e uma tarde em que turcos e georgianos arrancaram sorrisos com uma bola nos pés. Uma ode ao futebol mundano, que incorpora os descompassos e imprevisibilidades da vida.
Bélgica 0x1 Eslováquia
Foto: Thomas Kienzle/AFP
Duas surpresas em um jogo só. Em um primeiro momento, é natural que se destaque a surpresa pela derrota da Bélgica. A favorita do grupo, jogadores de grande qualidade e a expectativa de apagar a imagem ruim deixada na última Copa do Mundo. Porém, não foi a Bélgica que perdeu o jogo, foi a Eslováquia que venceu.
Embora tenha algumas figuras conhecidas de quem acompanha o futebol europeu com mais afinco, a Eslováquia não é uma equipe que faz brilhar os olhos se reduzirmos esse olhar à escalação no papel. Porém, dentro de campo os eslovacos entregaram uma das melhores atuações da 1ª rodada.
Alternando as alturas de seu bloco de marcação, a Eslováquia mostrou que é possível controlar o jogo sem ter a bola. Com gatilhos de movimentações bem estabelecidos e uma execução muito bem coordenada, a Eslováquia conseguiu proteger o seu próprio gol (apesar dos dois gols anulados da Bélgica). No ataque, aproveitou a chance que apareceu logo aos 7 minutos e abriu o placar.
Algumas narrativas podem centralizar a decepção entorno da Bélgica, mas prefiro dar o mérito à Eslováquia. Uma atuação de alto nível que resultou na primeira grande zebra da competição. Uma grata surpresa.
A grande história da rodada
Christian Eriksen
Foto: Clive Mason/Getty Images
Muito provavelmente, essa já é a grande história da competição. Na última Eurocopa, disputada em 2021, as imagens do jogo entre Dinamarca e Finlândia chocaram o mundo. Ao sofrer um mal súbito, Eriksen caiu, inconsciente, no gramado, no que se descobriu ser um ataque cardíaco. Ainda em campo, foi atendido as pressas e reanimado pela equipe médica. A reação de todos os jogadores e presentes no estádio mostraram a gravidade da situação.
A vida de Eriksen poderia ter acabado naquele momento, mas ele resistiu. Resistiu tanto que tempos depois voltou a fazer aquilo que ama: jogar futebol. Mas não parou por aí. 3 anos depois, voltou a defender seu país na Eurocopa. Esse desfecho, por si próprio, já carrega altas doses de emoção, mas o destino (ou seja lá como você queira chamar), decidiu sorrir um pouquinho mais para Eriksen, se é que fosse possível. Exatos 1.100 dias depois de quase perder a vida em campo, Eriksen marcou o primeiro gol da Dinamarca na competição. Uma das grandes histórias de superação e comoção escritas pelo futebol. Viva Christian Erriksen!
Resultados da 1ª rodada
Alemanha 5×1 Escócia
Hungria 1×3 Suíça
Espanha 3×0 Croácia
Itália 2×1 Albânia
Polônia 1×2 Holanda
Eslovênia 1×1 Dinamarca
Sérvia 0x1 Inglaterra
Romênia 3×0 Ucrânia
Bélgica 0x1 Eslováquia
Áustria 0x1 França
Turquia 3×1 Geórgia
Portugal 2×1 Tchéquia
Texto de Agildo Medeiros Neto
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