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Estudo de caso: FC Dallas, um dos clubes fundadores da MLS 

A Major League Soccer, conhecida como MLS, vem ganhando ano a ano mais visibilidade. O que antes era uma liga que acolhia jogadores prestes a se aposentarem, hoje já está mudando seu posicionamento ao investir em jovens promessas, tanto em vendas quanto em compras. Trago a seguir um estudo de caso de um clube histórico dentro do futebol nos Estados Unidos, mas antes de entrar no assunto propriamente dito, temos que conhecer um pouco mais da história de um grande nome e pioneiro do futebol profissional na terra do tio Sam – Lamar Hunt.  

História do FC Dallas

Nascido em 1932 (Arkansas, EUA), Lamar Hunt fomentou tanto o esporte no seu país, que acabou sendo nomeado para o hall da fama do futebol, futebol americano e tênis. Filho de H.L. Hunt, do ramo petrolífero, Lamar com 26 anos entrou para o mundo do esporte através do futebol americano. Em 1959, ajudou a fundar a AFL (American Football League), que se fundiu com a NFL (National Football League) em 1966, e fundou também o time Dallas Texans, que ao se mudar para Kansas City (Missouri, EUA) anos depois, foi renomeado Kansas City Chiefs – atual campeão do Super Bowl, torneio que leva esse nome por ideia de Hunt. O time ainda segue sob comando da família Hunt, sendo o presidente e CEO, Clark Hunt, filho de Lamar.  

Lamar começou a se interessar pelo nosso futebol em 1962 em uma ida à Irlanda, acompanhando as Copas do Mundo de perto desde então. Foi dono de clubes de futebol da NASL (North American Soccer League), liga que acabou em 1985, e da MLS (Major League Soccer), sendo dessa segunda um dos investidores iniciais em 1993.

Da MLS, foi dono do Columbus Crew e Sporting Kansas City (antigo Kansas City Wizards), e em 2003 adquiriu o FC Dallas (antigo Dallas Burn), vendendo em seguida as duas primeiras aquisições. Lamar Hunt veio a falecer em 2006, mas deixou um legado eterno no esporte americano, tendo hoje em sua homenagem o nome da competição de futebol mais antiga do país – “Lamar Hunt U.S. Open Cup”.  

Bom, agora que já fizemos um link entre o grande legado de Lamar Hunt e o futebol nos Estados Unidos, vamos estudar um pouco da trajetória de um dos seus times, que segue sob comando de seus filhos, Clark Hunt e Dan Hunt, através da Hunt Sports Group. O FC Dallas, criado em 1995 com o nome de Dallas Burn, o qual perdurou até 2004, é parte da fundação da MLS, participando da competição desde sua primeira edição em 1996. Vale uma nota aqui de que o surgimento da MLS se deu pelo fato de o país ter a chance de sediar a Copa do Mundo de 1994, fato muito influenciado por Hunt, mas como requisito, deviam ter uma liga profissional de futebol.  

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Internacionalização dos clubes de futebol, por Giovana Grassmann – GG Sports Management.

Dan Hunt assumiu a operação do clube desde sua aquisição em 2003, onde segue como presidente até hoje, inaugurando o Toyota Stadium em 2005, com capacidade para 20.500 pessoas, juntamente com a nova identidade do clube, agora chamando FC Dallas. A família Hunt, sempre muito visionária no esporte, fez do novo estádio um modelo para outros clubes que começaram a investir em estádios específicos para futebol também, já que muitos deles jogavam em campos adaptados dentro de estádios de futebol americano*.  

Aprofundando no modelo de gestão do clube, vemos o futebol dos Estados Unidos tendo sua gestão centralizada pela liga, sendo essa quem formula contratos, protocolos, paga salários dos atletas, etc. Os clubes são franquias da MLS, tendo que pagar um alto valor para participar e seguir uma série de exigências, e têm todos o mesmo teto salarial, regras a serem respeitadas quanto a transferências de atletas, etc. Não há relatos se os 10 clubes que fizeram parte do ano inaugural da liga em 1996, incluindo o FC Dallas, pagaram alguma taxa para se franquearem.

De um lado desse tipo de gestão, vemos os clubes sem muita autonomia e com uma baixa competitividade entre eles (até porque ninguém cai nem sobe de outra divisão pra MLS), mas de outro lado, cria-se um equilíbrio financeiro, não dando margem para corrupção e desorganização. Hoje dentro do FC Dallas vemos um brasileiro como diretor técnico do clube, André Zanotta, que já teve passagens pelo Santos, Sport e Grêmio.

O clube se divide em departamento técnico, executivo, de parcerias corporativas, mídia e comunicações, marketing, serviço para membros/sócios, merchandising, operação de estádio, base, recursos humanos, contabilidade, entre outros que cuidam do complexo ao redor do estádio. Junto com tudo isso, há também um departamento para a Fundação FC Dallas, a qual apoia programas de educação, saúde e bem-estar em comunidades no norte do Texas. 

No mercado nacional, dos 28 clubes da temporada 2022 da MLS, o FC Dallas ocupa a 26ª posição no ranking dos clubes mais valiosos, com um valor de US$ 400 milhões, ficando mais de meio bilhão de dólares atrás do primeiro da lista, Los Angeles FC (US$ 1 bilhão) – dados Forbes. No ranking mundial de clubes de futebol, segundo dados da FiveThirtyEight (fev.2023), o FC Dallas se encontra na 251ª posição (de 641 clubes) com 43.3 de pontuação, sendo essa classificação feita de acordo com o sistema SPI (Soccer Power Index) que analisa o desempenho das equipes de anos atrás até hoje, prevendo seu sucesso, ou insucesso, futuro.

Nesse quesito, quanto a títulos, o FC Dallas ainda não levantou o troféu da MLS, tendo uma boa campanha na temporada passada, onde ficou em 3º lugar da Conferência Oeste. Foi campeão em 1997 (como Dallas Burn) e 2016 da Lamar Hunt US Open Cup, competição que engloba equipes do país todo, de todos os níveis – amador, semiprofissional e profissional.  

Algo em que o clube se sobressai é quanto seus atletas. Dentre as 10 transferências de saída mais caras da história da MLS, o FC Dallas aparece em 4º lugar com Ricardo Pepi, considerado em 2021 o jogador jovem do ano da MLS, vendido para o Augsburg na Alemanha em 2022 por US$ 20 milhões.

Em 2020, o FC Dallas foi considerado o 2º melhor time da MLS quanto a formação de atletas, ficando atrás apenas do Los Angeles FC. Atletas como McKennie (Seleção Americana e atual Leeds FC – ING), Reggie Cannon (Seleção Americana e atual Boavista – PT), Bryan Reynolds (Seleção Americana e atual KVC Westerlo – BE) são exemplos de jogadores que saíram da base do clube americano para grandes times europeus, além de atletas que foram revelações e hoje jogam pelo time profissional, como Paxton Pomyka e Brandon Servania.

Do elenco da Seleção Americana atual, 3 atletas hoje atuam pelo FC Dallas – Paxton Pomykal (23 anos – base no FC Dallas), Paul Arriola (23 anos) e Jesús Ferreira (22 anos – base no FC Dallas). Na temporada de 2022 o time contou com a terceira menor média de idade do campeonato – 25.5 anos (dados: Football Observatory). 

De acordo com dados da MLSPA (Associação dos atletas da MLS), na temporada de 2022, o atleta mais bem pago do clube foi o argentino Franco Jara, que não atua mais pelo time em 2023, e que ganhava anualmente US$ 3,2 milhões, seguido na lista pelo americano Jesús Ferreira, com salário anual de US$ 1,5 milhões. Com uma folha salarial no ano de US$ 15.761.683 para os 32 jogadores inscritos na temporada de 2022, o FC Dallas fica na 14ª posição com a maior folha salarial do campeonato, sendo os primeiros da lista Toronto FC (US$ 32.234.728 / ano), LA Galaxy (US$ 27.303.314 / ano) e Inter Miami (US$ 24.194.278 / ano). 

Mas além da liga em si, de onde vem o dinheiro do clube? Quanto à bilheteria, a temporada de 2022 foi um sucesso para a MLS, batendo o recorde de público da história da liga, com um total de 10 milhões de pessoas acompanhando os jogos nos estádios durante o ano.

Dos 28 clubes, jogando em casa 17 vezes cada, o FC Dallas ficou em 19º lugar com uma média de público de 16.469 torcedores por jogo, a maior desde 2013/14, sendo o primeiro lugar o Atlanta United com uma média de 47.116 pessoas por jogo (com um estádio 3,5 vezes maior que do FC Dallas) e o segundo o Charlotte FC com uma média de 35.260 torcedores (foi a temporada inaugural do clube na MLS e o estádio comporta 75.412 pessoas).

Na questão de patrocínios, vemos todos os clubes da liga usando uniforme da Adidas, um acordo de US$ 700 milhões entre 2017-2024 da empresa com a MLS, mas quanto aos patrocinadores que estampam sua marca no uniforme, os clubes têm autonomia na hora da escolha.

Desde janeiro desse ano, os patrocinadores oficiais da camisa do clube são do ramo da saúde – Children’s Health e UT Southwestern Medical Center – acordo esse que não teve divulgação de duração e cifras envolvidas, embora seja conhecido que patrocínios de uniformes nos times da MLS são geralmente na casa dos sete dígitos por ano, embora muitos já se aproximem dos oito. Quanto ao naming rights do estádio, o acordo foi fechado em 2013 com a a empresa automobilística Toyota, mas da mesma forma sem divulgação de duração e valores negociados. 

Sobre transmissão de jogos, até a temporada de 2022, os jogos do FC Dallas eram transmitidos pela MLS LIVE na ESPN+, estações de TV do Texas, como a KTXA e KMPX (em espanhol), pelo streaming próprio do clube FcDallas.com/stream e através da MLS LIVE no DAZN no Canadá. Porém, a partir da temporada agora de 2023, tudo muda com o novo acordo de 10 anos da MLS com a Apple, que após pagar US$ 2,5 bilhões para a liga, terá direitos exclusivos sobre todos os jogos, com comentaristas em inglês e espanhol através da MLS Season Pass, o streaming da Apple para jogos da MLS disponível em mais de 100 países. 

Expandindo para além do seu território, em 2018, o FC Dallas fechou uma parceria com o Bayern de Munique, promovendo o intercâmbio de jovens atletas do clube para a Alemanha, onde passam algumas semanas em treinamento com o time B ou Sub 19 do clube alemão. Há também uma troca de conhecimento entre o staff dos dois clubes, como a ida de André Zanotta para lá para entender mais da gestão do clube, conforme informa no podcast com Rodrigo Capelo**, assim como troca sobre metodologia de treinamento, formação de atletas, etc.

Em 2018 mesmo, o Bayern contratou o zagueiro de 18 anos, Chris Richards, do FC Dallas, o qual atualmente está emprestado no Crystal Palace. E falando em expansão, o FC Dallas também conta com um time de E-Sports, competindo na eMLS, com o jogador Alan Avila. O campeonato acontece desde 2018, e o prêmio da temporada EA Sports FIFA 23 é de US$ 100 mil para o vencedor dentre os 26 clubes participantes. O clube alcançou a 4ª colocação tanto em 2018 quanto em 2019. 

Falar de clubes de futebol nos Estados Unidos é bem diferente do que falar de clubes no Brasil, onde vemos entre eles enorme diferença financeira, no nível do elenco, valores de transmissão recebidos, etc. O FC Dallas se destaca a meu ver, dentre tantas similaridades com outros times americanos, pelo fato da sua história com o pioneiro do esporte nos EUA, e por ter na gestão um brasileiro que sentiu como é trabalhar nos dois mercados – Brasil e Estados Unidos – e que vem fazendo um trabalho de excelência, sendo inspiração para nós no mercado. 

*Hoje o Toyota Stadium também comporta alguns jogos de futebol americano.

Podcast: Dinheiro em Jogo #125 – FC Dallas e a gestão do futebol (com bola redonda) nos EUA – de Rodrigo Capelo 

Texto de Giovana Grassmann – GG Sports Management.

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