Muitas vezes reclamamos de uma dificuldade apresentada pelo futebol brasileiro de ser inovador e criativo em busca de solucionar problemas que afetam a indústria há décadas. Uma das causas disso é a falta de repertório dos profissionais, e por isso escrevo este texto. Tentarei mostrar nos próximos parágrafos a importância de um repertório amplo para tornar o esporte brasileiro cada vez mais desenvolvido.
O significado de repertório
Ter um repertório vasto é um dos principais pilares de desenvolver a habilidade da criatividade. Quando alguém cita que um jogador é criativo, normalmente ocorre por ele ter um repertório de jogadas maior que os demais. Construir tal repertório ajuda a mostrar que a criatividade é uma habilidade, e pode ser treinada e desenvolvida a partir de ações no nosso dia a dia. Na sequência sugiro algumas formas de fazer isso.
Maneiras de construir repertório
- Conhecer novas culturas:
Conhecer novas culturas é fundamental neste trabalho. Viajar para um país ou cidade diferente é considerado uma das melhores formas de desenvolver sua criatividade. Nesse caso, pode-se aproveitar os conteúdos produzidos online, que trazem cada vez mais informações sobre outros mercados inclusive no futebol.
A newsletter produzida por LaLiga é um dos meus conteúdos preferidos nesse sentido. Ver o que estão criando Real Madrid, Barcelona e a própria instituição que controla o futebol na Espanha auxilia no processo criativo. No entanto o diferencial aqui são os cases de clubes menores, que não possuem tantos recursos e precisam inovar para buscar o sucesso em seu país. Assine aqui o conteúdo.
Da Alemanha surge uma iniciativa parecida. A Liga Alemã de Futebol (DFL) produz a Focus: Tomorrow Newsletter, um conteúdo voltado apenas para inovação no futebol do país. Internamente, este conteúdo se torna fundamental para ajudar na manutenção da cultura de inovação no futebol alemão. Para outros países, o mais importante é o aprendizado que o mercado traz, sendo um dos principais centros de inovação no esporte mundial.
- Conhecer novas pessoas:
O segundo pilar fala sobre conhecer pessoas. Diferente de outros tempos, tenho levado este segundo item muito a sério ao longo deste ano no FootHub. Dentro do nosso plano de ação para as áreas de educação e inovação, o contato com profissionais do esporte e de fora dele são tópicos importantes.
Esse contato com novas pessoas tem sido feito de diferentes formas. A mais direta é através da elaboração de uma rede de contatos, feitos por indicação ou pelo LinkedIn e que me permite conversar com as pessoas via plataformas de chamada de vídeo. Costumo trazer alguns destaques dessas conversas em minha newsletter no LinkedIn e chega a ser surpreendente como é possível ter ideias e mudanças de comportamento a partir de observações feitas por outras pessoas.
Outro ponto positivo dos últimos meses foram as visitas aos espaços do ecossistema de inovação aqui de Porto Alegre, como o Instituto Caldeira e o Tecnopuc, trazendo além da possibilidade de novos negócios, o contato com um mercado além do futebol, que traz considerações importantes.
- Esquecer padrões anteriores:
Esse terceiro e último item talvez seja o mais complicado. Podemos conviver com culturas e pessoas novas a todo instante, mas se estivermos agarrados aos nossos padrões, não conseguiremos ser pessoas mais criativas. Realizar atividades que temos medo e conviver com pessoas ou ambientes diferentes, que não estamos acostumados, são práticas que nos ajudam a criar repertório. Em ambos os casos será preciso esquecer o que era feito antes para se adaptar.
Bebendo de outras fontes
Até aqui, falei sobre observar outros mercados do futebol, como a Bundesliga e LaLiga. No entanto, para auxiliar nesse trabalho, podemos beber de outras fontes. O que quero dizer com isso? Os profissionais do futebol têm a chance de aprender com outros esportes e outras indústrias para evoluir.
Em termos de entretenimento, por exemplo, é difícil que o futebol aprenda mais com outra indústria do que com a NBA, liga de basquete dos Estados Unidos. E é possível ir mais longe.
Empreses de outros setores também podem educar o esporte nesse sentido. Analisando a lista de empresas mais inovadoras do Brasil, temos a Nestlé Brasil, com mais de 100 anos de atuação no país como líder do ranking. Como fazer uma empresa com tanto tempo de mercado se tornar inovadora? Esta pergunta poderia ser feita por um dirigente de futebol, sendo respondida por Marcelo Melchior, CEO da Nestlé no país.
A importância do contexto
A análise feita ao longo do texto trata de mostrar como podemos mudar o futebol com ideias e conceitos de fora. Porém, preciso recorrer a uma frase da Débora Saldanha em outro texto aqui no FootHub para fazer um alerta: “antes de inovar é preciso entender contextos, cenários e principalmente, a cultura de onde se quer aplicar alguma inovação”.
O futebol brasileiro possui sua cultura própria, sendo preciso conhecer outras iniciativas e entender como elas podem se encaixar no contexto do nosso futebol, com comportamentos específicos de torcedores e uma estrutura política muito forte fazendo parte da nossa realidade.
Para finalizar, na semana em que esse texto vai ao ar, estarei na “Brasil Futebol Expo”, a maior feira de futebol da América Latina, justamente para aumentar meu repertório, assistindo algumas referências do meio dividirem sua experiência e me conectando com profissionais do esporte. Quem chegou até aqui e estiver é só me procurar nas redes sociais para que possamos conversar!