Conheça Ana Vitória: Atleta mais jovem a marcar gol em um campeonato brasileiro feminino adulto

Ana é atleta do PSG e está com a equipe disputando a Liga dos Campeões e também se prepara para disputar vaga nos Jogos Olímpicos de Paris em 2024

Para apresentar o Case Ana Vitória, que tenho o privilégio de estar vivenciando, inicio a matéria trazendo brevemente pontos significativos da minha trajetória, pois foram estas habilidades adquiridas que me possibilitaram hoje contar essa história…

Em 2006, após 14 anos como atleta de futebol, decidi encerrar as atividades e iniciar um novo projeto, desta vez, fora de campo. Meu pai, junto a outros sócios, havia recentemente inaugurado um clube de futebol profissional. Fui então convidado a desenvolver um projeto para a formação de atletas nas categorias de base, projeto este que escolhi como tema do meu trabalho de conclusão de faculdade (Organização e Implementação das Categorias de Base do Rondonópolis E.C).

Este projeto, que já impulsionou e promoveu atletas como Valdívia, Daniel Brito, Rildo, Jader, entre outros, proporcionou o surgimento em 2008, de uma estrela do futebol feminino nacional e internacional.

Primeiros passos: Rondonópolis Esporte Clube

Aos 8 anos de idade, tendo sido rejeitada em outra escola local (que na época não permitia meninas frequentarem) Ana Vitória procurou nossa escolinha, onde foi acolhida e assim iniciou sua trajetória. Desde o início, além das qualidades técnicas, chamavam a atenção o comportamento, postura, atitude e imposição que davam a ela um destaque nos treinamentos diários e nos jogos/competições.

Num contexto de crescimento do projeto, decidimos inserir junto às equipes de alto rendimento/profissional e sub 20 as categorias sub 13, sub 15 e sub 17.

Ana Vitória apresentava nível, desempenho e méritos mais que suficientes para integrar a equipe sub 13 e, para tal, nos reinventamos e decidimos adaptar a estrutura do clube para que necessidades básicas da atleta fossem atendidas. Nesse sentido, por exemplo, adaptamos o vestiário para que ela pudesse se fardar com a devida privacidade.

Vale salientar que a essa altura ela já havia conquistado o respeito e a admiração de todos no clube por sua postura, conduta, talento, profissionalismo e um incrível “apetite” por trabalhar, se desenvolver e desafiar quaisquer obstáculos e por vencer.

E a oportunidade surgiu!

O que nos faltava era um horizonte para que Ana Vitória pudesse decolar rumo aos seus sonhos. Então, em 2013 eis que surge a oportunidade. Enquanto eu fazia pesquisas pela internet durante a madrugada, acessando a página da CBF, logo vejo uma notícia sobre a iniciativa por parte da Confederação em fazer avaliações em algumas capitais do Brasil, a fim de mapear atletas em potencial para servir às seleções de base, mais especificamente a categoria sub 17, e já estava agendada em Cuiabá para a semana seguinte.

Empolgado, naquela hora, às 2 horas, fiz o contato com o pai de Ana, seu grande incentivador:

“Sr. Waldemar, encontrei a oportunidade que tanto buscávamos: “te prepara que semana que vem vamos a Cuiabá.”

Então, mesmo um pouco receosos de ela não poder participar por ter apenas 13 anos (sendo a avaliação focada em meninas de 17), tínhamos a enorme confiança de que teríamos êxito.

Chegando no Estádio “Dutrinha”, local do evento, fui conversar com a responsável, a própria treinadora da Seleção Brasileira sub 17, Emily Lima. Contextualizei sobre a trajetória e potencial de Ana e que ela já era habituada a atuar com os meninos e com mulheres. Emily pediu para conhecê-la, conversaram e logo sentiu segurança e a autorizou a participar normalmente das avaliações.

Acostumada a quebrar paradigmas, ela naquele dia começou a criar seu espaço na seleção brasileira. Aninha simplesmente arrebentou nos treinamentos, virou sensação no ambiente entre atletas, torcedores, famílias presentes e a imprensa local, sendo assediada para fotos, entrevistas, cumprimentos e autógrafos. Obviamente surpreendeu e encantou a treinadora da seleção.

Na outra semana, recebi a ligação da comissão técnica da seleção sub 17, que no mês seguinte iriam disputar o sul-americano da categoria no Paraguai. Me perguntaram se eu entendia que ela estaria preparada para integrar a equipe na disputa. Obviamente, dei a certeza que sim, e mais que isso, teriam uma grata surpresa.

Início da trajetória pela Seleção Brasileira (10 anos com a Amarelinha) 2013/2023…

Ana Vitória foi convocada para Seleção Brasileira sub 17, com apenas 13 anos.

Foi convocada e terminou a competição como titular da equipe. Começou ali a sua trajetória de mais de 10 anos vestindo a camisa da Seleção Brasileira até aqui,  entre sub 17, sub 20 e profissional.

Etapa Corinthians/Audax

No início de 2016, junto à nossa equipe sub 17 masculina, ela disputou a Copa Maravilha (SC). Seria a sua despedida da Academia FC, pois já havíamos acertado a sua ida ao Corinthians/Audax, seu clube do coração.

Mais uma vez, Ana foi destaque, titular absoluta da equipe, com ótimas atuações e dois belos gols.

De lá seguimos direto à Osasco, onde Ana foi apresentada ao Corinthians/Audax. Estreou prestes a completar 17 anos, numa equipe considerada das mais fortes do país.

Com apenas 03 meses, Ana já era titular e uma das atletas destaque da equipe. Conquistou títulos como paulistão, brasileirão e libertadores, com elevado protagonismo.

Início do desafio internacional: SL Benfica

As suas atuações chamaram atenção do mercado internacional e logo surgiu o interesse de clubes europeus e um projeto/ proposta atrativo e desafiador para jogar no Benfica de Portugal, gigante europeu que recentemente havia implantado o futebol feminino.

Proposta aceita, Ana Vitória, assim que completou 18 anos, se apresentou no Estádio da Luz.

Iniciou sua trajetória europeia sendo a primeira atleta do clube a utilizar a simbólica camiseta Nº 10, entregue pelas mãos de Rui Costa, maior jogador camisa 10 da história do clube e atual presidente.

Foram 5 anos de muitas conquistas, idolatria dos adeptos, e marcando seu nome na história do maior de Portugal.

Paris Saint Germain 2023

Dentre outras propostas eis que surge o interesse do PSG. Sendo assim, consideramos que era a hora de dar um passo ainda mais ambicioso na direção de uma das Ligas mais importantes, competitivas e valorizadas do mercado mundial.

Feitos especiais que marcaram (até aqui) a sua carreira

Até hoje a atleta mais jovem a marcar gol em um campeonato brasileiro feminino adulto, com ainda 15 anos e seis meses, atuando emprestada ao Mixto MT, diante do Foz Cataratas. Nesta ocasião, foi a primeira atleta local a marcar um gol na recém-inaugurada Arena Pantanal, em partidas oficiais.

Estados Unidos (a Decisão) aos 15 anos Ana Vitória esteve em Miami, onde a inscrevemos em um “draft”, sob os olhares de vários observadores de universidades americanas iriam avaliar várias garotas, quase todas entre 17 e 19 anos. Ana Vitória teve tanto destaque nos dois dias de treinamentos, que mesmo ainda prestes a ingressar no 2ºgrau (equivalente a High School lá) recebeu diversas sondagens e propostas, a mais direta e objetiva da Universidade de Miami, que, empolgados com a capacidade precoce dela, nos levaram a conhecer o Campus e toda estrutura, realmente de impressionar e de cara ofereceram High School, moradia, ajuda de custo, bolsa integral no curso que quisesse na sequência, tudo para se vincular e representar a Universidade.

 Este foi um momento de decisão para a vida e carreira. Perguntei se era o que ela queria, a resposta foi clara: “eu quero ser atleta profissional de grandes clubes, de bandeira e torcida, no Brasil e Europa, então vamos!” Ela sempre foi muito decidida e já sabia bem onde queria chegar!

Pelo Corinthians/Audax, com 17 anos, disputou 57 partidas, pela equipe profissional feminina. Conquistando o Paulistão, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores.

Na final da Copa Libertadores feminina (2017), foi responsável converter o último pênalti na vitória sobre o Colo Colo do Chile.

No SL Benfica (2018 a 2023), conquistou 11 títulos, entre a Liga de Portugal, Taça de Portugal, Taça da Liga e a Super Taça. Realizou um total de 129 jogos oficiais e 65 gols. Na sua última temporada pelo SL Benfica, em 39 jogos, fez 20 gols e deu 16 assistências. Tornando-se ídola da equipe lisboeta.

Capitã da Seleção Brasileira, levantou a Taça de Campeã Sulamericano em 2017.

Primeira atleta mato-grossense a disputar uma Copa do Mundo profissional.

Este ano completou 10 anos consecutivos representando as Seleções Brasileiras.

Desafios atuais

Ana Vitória é atleta do Paris Saint Germain e neste momento está com a equipe disputando a Liga dos Campeões, e também se prepara para disputar vaga nos Jogos Olímpicos de Paris em 2024. Desse modo, há uma grande expectativa da conquista do tão sonhada medalha de ouro…

Texto de Márcio Schmidt

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