Desde 2021 a CBF cuida de todas as Seleções brasileiras de Futsal, oferecendo toda a estrutura e know-how semelhantes ao Futebol. Foi a primeira vez na história que a modalidade foi incluída no “guarda-chuva” da instituição, assim como já estavam o Futebol e o Futebol de Praia.
Foto: Douglas Pingituro/CBF
Para entender um pouco melhor dos porquês da demora para a CBF tomar esta decisão, deveríamos voltar na história do até então “Futebol de Salão” e o início da nomenclatura “Futsal”, porém, o contexto é longo e confuso, rodeados de muita política, jogos de interesses, atritos entre: CBF, CBFS, FIFA, FIFUSA.
É interessante frisar, que neste longo período de imbróglio entre as instituições citadas podemos dividi-las em duas fases principais. A primeira fase perdurou até 1989, onde a FIFA, neste mesmo ano, organizou a sua primeira Copa do Mundo. Já a segunda fase aconteceu no fim dos anos 90, quando foi proposto um acordo oficial em 2000, pelo qual a FIFUSA se tornaria um departamento da FIFA e está passaria a comandar o antigo Futebol de Salão. No entanto, por motivos diversos a parceria não vingou, e cada entidade seguiu seu caminho. Em 2002, membros da PANAFUTSAL criam a AMF, para seguir o legado da FIFUSA (até hoje acontecem competições oficiais espalhadas pelo mundo).
Independente de tantas instituições envolvidas e todos os problemas ocorridos, considero que houve uma demora “conveniente” da CBF para ter um cuidado maior com o Futsal, muito tempo se passou, e pouco foi realizado até 2021, nos deixando agora, com uma boa expectativa do início de uma terceira fase.
O “guarda-chuva”
Através da RDI 01/2021, a gestão da modalidade Futsal no Brasil (competitiva/formal), passa a ser exclusivamente da CBF, sendo ela, a represente oficial perante todos os assuntos relacionados a CONMEBOL e FIFA.
Além disso como já citado, a CBF, é a responsável por todas as Seleções de Futsal (administração, logística, estruturas, captação de patrocínios/parceiros, outros).
Anteriormente, a gestão das Seleções brasileiras era da CBFS, com esta alteração, a CBFS não perde a sua representatividade e ainda continua com a responsabilidade de controlar os registros dos jogadores, transferências, organização das competições, outros. Porém, de acordo a RDI, a CBF já deveria estar cuidando dos registros e transferências, mas isto ainda não se concretizou.
Quanto as competições, mesmo com a alteração pontual da gestão, não houve alterações relacionadas as organizações das competições nacionais e de federações (Ex.: Liga Nacional, Supercopa, Taça Brasil, Estaduais, Regionais, outros), que continuarão administradas pela CBFS ou sobre sua supervisão.
Obs.: A CBFS, está resguardada da sua autonomia jurídica, administrativa e patrimonial, além de sua independência econômica e financeira com relação à CBF.
Leia: Modelos de Gestão para a integração/fusão do Futsal e o Futebol de Base
De Rodrigo Neves
Conclusão
Não podemos negar que tivemos um bom “start” na relação CBF e o Futsal, porém, ainda temos muito trabalho pela frente, tornando-se necessário estreitar os processos em execução.
Ainda existem “gaps” significativos dentro da relação. Não temos um Departamento de Futsal robusto e bem definido dentro da instituição, talvez a precocidade da RDI e o contexto histórico explique melhor este distanciamento. Dentre as diversas necessidades pendentes, reafirmo mais uma vez, que todos os registros dos jogadores federados e transferências (nacionais e internacionais) já deveriam estar devidamente cadastrados e conduzidos pela CBF.
Outra providência que considero importante, é em relação as competições e a possibilidade de regras unificadas respeitando as faixas etárias/categorias. A CBF realmente precisa organizar as competições e propor que as Federações cheguem a um concesso pedagógico, para que que tenhamos uma só regra em vigor. Hoje existem diversas adaptações espalhadas pelo Brasil, o que que não minha visão atrapalha a modalidade.
Recentemente uma fonte importante me relatou que a CBF em um futuro próximo, não quer mais ser a responsável pela organização de competições (Ex.: Brasileirão e suas séries, campeonatos de base, feminino, outros). Caso isso aconteça, minha ideia já está descartada, pois a CBF vai se preocupar apenas com os assuntos pertinentes as Seleções de Futebol, Futsal, Futebol de Praia.
Este formato organizacional (competições X seleções) já é facilmente encontrado nos principais países fomentadores do Futebol. Como funciona? As Ligas são as responsáveis pelas competições, e as Confederações ou Federações são responsáveis pelas Seleções (Ex.: Espanha – LA LIGA organiza as competições e a RFEF as seleções).
Na prática, caso haja realmente esta mudança, para o Futsal não altera em nada o formato que já se encontra. As competições continuam sendo organizadas pela CBFS, e as Seleções continuam sobre responsabilidade da CBF.
Agora, uma notícia excelente. Existe grande possibilidade da construção de uma quadra oficial (ginásio) de Futsal dentro da Granja Comary. Este assunto está avançado, podendo ter novidades em breve. Penso que esta construção seria fundamental para uma melhor estrutura e o engrandecimento (“peso”) da modalidade dentro da instituição.
Para finalizar, não tenho dúvidas que a CBF pode ser sim um grande “divisor de águas” para o crescimento do Futsal no Brasil, nos trazendo em um futuro próximo quem sabe outras novidades em prol do Futsal de formação e rendimento.
Texto de Rodrigo Neves
