Brasil: O país do etarismo

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Já faz um bom tempo que ouvimos falar que o futebol brasileiro precisa se reerguer e se repaginar quanto às suas ideias, seja no que diz respeito aos conceitos de jogo e metodologia de treino, seja quanto à cultura – futebolística ou não – desenvolvida através do tempo. Nos últimos anos o futebol tem passado por inúmeras metamorfoses, algumas mais severas do que outras, mas é indiscutível que se transformou nos últimos 20 anos.

Trazemos à luz é o fato de que o futebol está sendo estudado ao extremo! Nada foge à observação e absolutamente cada detalhe do campo é diagnosticado e destacado para uma possível melhoria. No Brasil, o caso é um pouco mais crítico!

Via de regra, nossos treinadores que mais estudam estão atuando majoritariamente nas categorias de base, pois o mercado absorve muito mais o ex-jogador (figura folclórica ou mitológica do herói) do que o estudioso que vem ao longo dos anos estudando, dia após dia, os fenômenos do esporte. O que está sendo posto em causa não é a visão de mundo por parte dos dirigentes, mas sim, a falta de conteúdo do nosso futebol.

Há quanto tempo ouvimos que o nosso futebol estagnou? Há quanto tempo estamos vendo uma leva enorme de treinadores estrangeiros vindo ao Brasil na esperança de mostrar algo novo, ao invés de buscarmos nossas próprias matérias-primas? E veja bem: os estrangeiros estão conseguindo resultados! Jorge Jesus, no Flamengo; Abel Ferreira, no Palmeiras; Vojvoda, no Fortaleza; Pedro Caixinha, no Red Bull Bragantino; Luís Castro, no Botafogo; Eduardo Coudet, no Internacional…

Alexandre Schneider/Getty Images

Chega a ser irônico que haja tamanho apelo por ideias novas, mas não se abra mão da velha guarda, quando se ventilam nomes de treinadores. Recentemente, um dos critérios adotados para ocupar a vaga de treinador de um clube da série A do Campeonato Brasileiro era ter “entre 40 e 50 anos”. Que tipo de critério é esse? O que este tipo de critério quer defender em relação a conhecimento e experiência? É fácil afirmar que, se depender deste tipo de pensamento, o Brasil jamais terá um Julian Nagelsmann.

Ele não cumpriria com o critério anteriormente mencionado, estabelecido pelo dirigente. Nem ele, nem Guardiola, nem Klopp, nem José Mourinho, nem Claudio Ranieri ou nem mesmo Alex Ferguson. Parafraseando Albert Einstein: “É mais difícil quebrar um átomo do que quebrar um preconceito”.

Mas, trazendo novamente o foco para ideias novas, já te deste conta da idade média de comissões de treinadores estrangeiros e brasileiros? Provavelmente te assuste, mas estes treinadores que vêm de fora do Brasil tendem a ter um staff com média de idade inferior aos staffs brasileiros.

Trago aqui a minha experiência: quando estive no Futebol Clube Vizela, com 29 anos, eu não era um dos mais jovens auxiliares do campeonato. Pelo contrário! De todo o campeonato, 10 profissionais eram mais jovens do que eu. Além disso, mais de 50% dos auxiliares do campeonato português na temporada 22/23 tinham menos de 40 anos.

Diferentemente desta realidade, quando cheguei ao Santos Futebol Clube, com 30 anos e 2 meses, fui o auxiliar técnico mais jovem do campeonato brasileiro. Depois, os mais jovens tinham 4 anos a mais, curiosamente todos de uma comissão portuguesa. Coincidência? Não acredito, sinceramente.

Digo isto não para causar nenhum tipo de afronta, mas para tomarmos consciência de como o “tabu do cabelo branco” se manifesta no Brasil. Não se quer melhorar o nosso futebol? Que tal trazermos staffs com ideias, literalmente, rejuvenescidas?

Texto de Leonardo Monteiro

Brasil

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