processo de aprendizagem
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As dimensões do ensino e da aprendizagem no futebol

Somos seres altamente adaptáveis e dotados de uma capacidade ilimitada de aprendizado. Historicamente, evoluímos enquanto espécie e nos desenvolvemos exponencialmente à partir estruturas de pequenos e grandes grupos. A comunicação através de símbolos foi gradativamente substituída pela comunicação verbal e dessa maneira, segundo Fonseca (2009, p.65) citado por Oliveira (2015, p.119), o ser humano como ser aprendente, acabou por ser transformar no produto das interações interiores e exteriores que realizou com os outros seres humanos, ou seja, com a sociedade no seu todo.

Já a cultura, exerce papel importante na construção das nossas experiências e do nosso “eu”, ditando nossa maneira de ver e ser no mundo. Oliveira (2015) ressalta que a aprendizagem humana não se configura apenas através de um armazenamento de informações, mas sim pelos estímulos advindos do próprio organismo, da programação genética e do ambiente externo.

Nesse sentido, a capacidade de aprendizagem – como se aprende e o quê se aprende – têm papel central na formação. Botti (2010, p.3), apoiado em Teixeira (2000) e citado por Oliveira (2015, p.125) diz que o aprender assume o significado de “ganhar um modo de agir”, isto é, a aprendizagem só ocorre quando, após assimilarmos algo, conseguimos agir de acordo com o que aprendemos. A aprendizagem nesse sentido, se configura como processo ativo que se desenvolve quando o individuo é exposto a reações adequadas que em seguida, são fixadas e se tornam repertórios de experiências guardadas em suas memórias, enraizadas no seu eu e traduzidas em ação.


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De acordo com dados da FIFA (Federação Internacional de Futebol) no ano de 2006, cerca de 270 milhões de pessoas já atuavam em atividades diretamente relacionadas ao esporte, o que atribui, a nível macro, uma importante expressão social e a nível micro, uma característica de esporte coletivo repleto de pequenas interações que representam um conjunto. Como Jogo Esportivo Coletivo (JEC), o futebol têm por característica o contexto ambiental em que as ações se desenvolvem com imprevisibilidade, aleatoriedade e variabilidade, em decorrência das múltiplas ações de conflito entre as equipes, mais as ações de colaboração no interior de cada equipe visando um mesmo objetivo tático. (GARGANTA, 1998; MATIAS; GRECO. 2009).

Dentro dessa perspectiva, pensar em formação atlética humanizada considerando apenas o histórico cultural da instituição no qual determinado indivíduo está inserido, tentando adequá-lo a um ambiente que possivelmente seja escasso de representatividade e significado, não parece mais ser o suficiente para potencializa-lo como ser pertencente desse ambiente, com preceitos que irão ser traduzidos para o campo e fora dele. Pensar que somos produto de todas as nossas interações e que essas interações com o ambiente são realizadas desde o período uterino, é um importante conceito a ser considerado nos currículos formativos.

Oliveira (2015) ressalta que alcançar o conhecimento depende da cognição que envolve um complexo de eventos cerebrais como atenção, raciocínio, memória e percepção e esses processos necessitam de intenso treinamento e estimulação como Vygotsky, citado por Oliveira (2015, p. 82) reafirma em sua ideia de que o desenvolvimento requer contínua reestruturação de processos naturais e competências que ocorrem quando se domina um instrumento cultural – aqui podemos pensar em determinados conceitos do jogo, por exemplo – que logo serão substituídos por outros instrumentos mais eficazes e eficientes (novos conceitos, formas de jogar e novas interações).

A ideia desse breve levantamento conceitual é ampliar a problemática sobre a intervenção de treinadores(as), gestores(as), árbitros(as) e de todos profissionais que estão direta e indiretamente ligados ao futebol e assim, envolvidos no processo de educação desses atletas. Entendendo que o desenvolvimento ocorre dentro de contextos e que não é possível desassociar esses contextos da prática, precisamos refletir mais sobre a educação esportiva e quando me refiro a educação esportiva, não me refiro apenas sobre as relações interpessoais com companheiros e adversários ou assimilar conteúdos em treinos e transpor esses conteúdos para o jogo no futebol, falo sobre TODOS ao mesmo tempo.

Eu conheço o meu atleta em sua totalidade? Respeito e considero a sua construção individual até aqui ou apenas quero moldá-lo dentro do que acredito que seja o melhor? Como posso contribuir de maneira efetiva para a sua totalidade através do ensino do jogo? Estou realmente formando um individuo autônomo, capaz de se responsabilizar pela construção do próprio conhecimento e performance? Considero que as habilidades de raciocínio prévias possuem – ou não – alguma base para otimizar a tomada de decisão no âmbito esportivo e social? Avalio os saberes declarativos e processuais com base no que eu acredito ou com base no que consigo transmitir? Utilizo essas informações para melhorar minhas intervenções sem esgotar as possibilidades de ensino ou me respaldo na ideia de que meu atleta é incapaz de aprender?

Deixo as reflexões e inquietações para todos.

Texto de Raíssa Jacob.

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