Por que vaiamos o jogador adversário quando ele está prestes a cobrar um pênalti ou falta perigosa contra o nosso time? Por que xingamos e vaiamos o goleiro adversário numa bola recuada, ou simplesmente do nada, atrás do gol defendido por ele?
Se sua resposta tiver alguma relação com ser uma tentativa de desestabilizar o adversário e fazer com que ele erre ou tome decisões ruins ao ser pressionado, há uma concordância. Este é o principal motivo destes comportamentos e neste texto o objetivo é discutir uma inversão de lógica quase irracional.
Partindo do pressuposto que ao vaiar/xingar um atleta você gera uma carga emocional extra de pressão sobre ele e isso tende a afetar as suas decisões negativamente, qual o sentido de vaiarmos um dos nossos?
Pedro Heitor, no seu texto “Lentes da Verdade”, também publicado no site do FootHub, traz algumas justificativas plausíveis para essa forma de ‘desabafo’ do torcedor, pois o que ele busca no futebol é o divertimento – uma fuga da sua estressante realidade – e quando algo frustra essa fuga, a impaciência leva a tais atitudes.
De todo modo, proponho a reflexão… Nas Olimpíadas do Rio, a torcida brasileira vaiou o francês multi-campeão e recordista mundial do salto com vara Renaud Lavillenie na final contra o atleta da casa Thiago Braz. A tentativa de desestabilizar o atleta parece ter funcionado pois além de ser derrotado, o francês fez diversas críticas ao comportamento da torcida brasileira.
Se utilizamos dessa estratégia para prejudicar adversários – a qual não farei juízo de valor neste texto – porquê diabos vamos utilizar dela contra um atleta do nosso time? Não faz muito sentido e ainda há alguns agravantes:
1- quando a vaia/xingamento é no decorrer da partida, não é só o atleta alvo que sente a impaciência da torcida, o time adversário também sente e têm um fácil gatilho de pressão e alvo de jogadas para concentrar as suas ações.
2- quando o seu time não é financeiramente forte, naturalmente os atletas tendem a ter menos qualidade, o que vai exigir um pouco mais de paciência e/ou incentivo e;
3- quando o atleta alvo é jovem, a inexperiência faz com que o atleta, em geral, fique mais inibido e isso torna ainda mais complicada a sua evolução.
Assim como Pedro Heitor concluiu em “Lentes da Verdade”, fica aclarado que, apesar de explicada, a mencionada descarga de frustração traz consequências que no fim são indesejadas por seus próprios autores.
Texto de Yuri Silva, do Los Futebólicos.