A participação dos pais, responsáveis e clubes na condução do processo de formação dos jogadores e jogadoras

Foto: Reprodução Prefeitura de Itaboraí

Muitos meninos e meninas que praticam futebol na infância e adolescência nutrem o sonho de serem profissionais da modalidade em alto nível. No entanto, temos conhecimento que chegar à elite é um privilégio de poucos, e, ao longo deste caminho, diversos fatores poderão influenciar suas jornadas, tornando-as bem ou mal-sucedidas.

Um dos principais pontos de atenção refere-se à influência exercida pelos pais, responsáveis e demais pessoas que convivem diretamente com estes jovens atletas.

É raro que eles cheguem por conta própria em um clube ou agremiação para jogar, sempre há alguém, algum familiar, amigo, professor ou pessoa próxima, que “identificou” este / esta jovem com potencial para seguir de forma sistemática dentro do futebol.

Entretanto, a partir deste momento, por mais que haja conhecimento, experiência esportiva por parte dos responsáveis, se faz necessário ter muito cuidado na condução das ações, influências e reações diante dos acontecimentos.

Por mais que tenhamos experiência de vida ou até mesmo no futebol, somos frutos de uma geração diferente daqueles que são crianças e jovens, por isso, toda atenção e cuidado ao conduzir este (a) menino (a), pois, dependendo da magnitude do erro, uma carreira promissora pode ser “jogada fora”. Podemos citar alguns fatores que podem comprometer seriamente ou até mesmo promover o encerramento precoce da carreira do (a) atleta numa categoria de base, como por exemplo:

  • Excesso de Cobrança: A competição interna nos clubes entre os atletas e com os outros times por si só, já é gigantesca, os treinamentos contêm uma série de informações e exigências, se, no período em que estiverem fora das atividades os responsáveis cobrarem demasiadamente, apontar apenas os erros e exigirem muito acima de sua capacidade, isso em vez de ajudar pode, ter efeito totalmente contrário.
  • Transformar o (a) jovem atleta em uma espécie de “ser intocável”: Sabemos que o Status por pertencer a uma categoria de base de clube de futebol e, em  alguns casos, obter remuneração e ter perspectiva de ascensão à equipe principal é algo a ser valorizado, um motivo de orgulho, porém, isso não dá direito para fazer somente aquilo que desejar, é necessário acompanhar e, por mais que seja trabalhoso, há de lembrá-los que são seres em formação humana (relações consigo mesmo e com os outros), educacional (tarefas diárias, escola) e esportiva (treino e competições) com direitos e deveres. Além disso, princípios e valores morais devem ser sempre reforçados, pois estes farão a diferença em estágios superiores da vida adulta
  • Negligenciar aspectos referentes aos anseios e sentimentos das crianças e jovens: A rotina de treinos, viagens, além de conciliar com as obrigações (principalmente nas idades iniciais até por volta dos 15-16 anos) por muitas vezes é muito pesada e, é preciso encontrar momentos para que as “crianças sejam crianças”, que os adolescentes possam ter “vida além do clube”. Porque além da sobrecarga física, a mente também necessita ter seu descanso e recuperação.

Logicamente o processo é muito complexo e, claro, em poucos parágrafos não podemos definir ou categorizar todos os detalhes inerentes ao mesmo, mas, temos de compreender que está “rede de apoio” é fundamental para potencializar os (as) jogadores (as) e evitar que talentos sejam desperdiçados pelo caminho.

Leia: Categoria de base: o que você precisa saber para começar

E para ampliar, qualificar esta estrutura, existem profissionais ligados às áreas de saúde infanto-juvenil e mental, como Psicologia Clínica, Psicologia do Esporte, Psiquiatria, até mesmo Pediatria (algo pouco comum ainda aqui no Brasil, porém, extremamente necessário na formação de jogadores e jogadoras) que podem ajudar a compreender estas relações fisiológicas, humanas e psicossociais, auxiliando tanto os jogadores, clubes quanto as famílias. Já que muitas vezes, os atletas passam muito mais tempo no ambiente externo do que no próprio local de treinamento.

Além disso, existe a contribuição das Assistentes Sociais que são responsáveis por este elo entre família -jogador(a) – clube. Podemos destacar ainda o papel dos Mentores, pessoas com experiência em treinamento, desenvolvimento de jogadores (as), muitas vezes, com amplo conhecimento nos aspectos físico-técnicos e táticos, que auxiliam muito na mediação desse processo do dia a dia e assimilação daquilo que é exigido pelos treinadores e posto em prática pelos atletas.

É importante lembrar que ser pai, mãe, professor, “descobridor do talento”, treinador, gestor, enfim, não é garantia de que saibamos exatamente o que os jovens necessitam, é preciso que estejamos atentos sempre ao maior número de possibilidades e fatores.

Dialogar com os profissionais que atuam com com os (as) atletas nas mãos diferentes áreas sempre que possível é fundamental, pois a linha para ocorrer um desvio do caminho, por alguma (as) das partes, tanto dos atletas como de quem os conduz e dos próprios clubes é tênue, e: assim como ações coordenadas e organizadas podem potencializar ainda mais aquele talento, gerar mais confiança e performance, o contrário disso, pode prejudicar consideravelmente, acabar com sonhos, com carreiras promissoras e ativos dos clubes.

Precisamos salientar que oscilações durante o período de categorias de base acontecerão por diversos motivos, às vezes, ficar no banco de reservas, não ser relacionado para um jogo, passar por uma dispensa, não é o fim. Longe disso! Assim como ser sempre titular, destaque nas competições de categorias inferiores não é garantia de sucesso. Mesmo com as turbulências, eventos positivos e outros nem tanto, é sempre necessário ter paciência, constância, e refletir em conjunto sobre todas as situações para que haja evolução e crescimento, assim, a probabilidade de se chegar ao êxito, poderá ser muito maior.

Texto de Wilson Souza

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