Foto: Gilvan de Souza / Flamengo
No meio do futebol, a categoria de base é o grande espaço de formação de jogadores. É lá onde os jovens começam a desenvolver não apenas suas capacidades técnicas, táticas, físicas e psicológicas, mas também começam a se formar e se desenvolver enquanto indivíduos e cidadãos. Portanto, é de suma importância que os clubes estejam munidos de profissionais capacitados para conduzir esse processo.
Nesse sentido, um dos cargos mais importantes dentro das categorias de base é o de treinador, que carrega uma série de complexidades e particularidades próprias de um contexto de formação. Tomando essas dificuldades como fio condutor, a ideia do texto é refletir sobre o papel do treinador nas etapas e no processo de formação dos atletas.
A primeira dificuldade para um treinador inserido em um contexto de categoria de base, é entender que antes de treinar, ele precisa formar. Ao assumir o papel de formador, o profissional precisa ter em mente a importância de conceder autonomia e liberdade para aquele jovem em formação, sobretudo em idades mais baixas. A partir do momento em que o processo de formação começa a restringir as tentativas e a autonomia dos jovens, passa a se tornar algo frustrante para eles.
Sendo assim, se o treinador pretender formar, não basta apenas transmitir para os jovens os conteúdos táticos do jogo, é preciso promover e estimular as suas capacidades criativas e resolutivas, além de prepará-los para os diferentes contextos e adversidades que podem encontrar em suas carreiras (e vidas), e não é possível fazer isso minando a autonomia e liberdade desses jovens. É preciso deixar que eles tentem, que eles errem, que eles resolvam os problemas que o jogo apresenta, que eles se expressem… em resumo, é preciso deixar que eles sejam quem realmente são.
Outro desafio que os treinadores de base precisam lidar é a pressão (interna e externa) por resultados dentro de campo. Infelizmente, nem todos os clubes entendem que o objetivo principal da base não é vencer, mas sim entregar atletas formados para a equipe principal. Desta maneira, os resultados que deveriam ser vistos como uma consequência, passam a ser tratados como obrigação, atrapalhando a formação e desenvolvimento dos jovens em prol de uma cultura do resultado entranhada no futebol brasileiro.
Paralelo a isso, os treinadores de base precisam lidar com mais um tipo de complexidade, que julgo ser a mais recorrente e perigosa, que é quando os próprios treinadores adotam, por si só, essa cultura resultadista. Esses treinadores enxergam na base uma oportunidade de se destacar e crescer em suas carreiras, entendendo os resultados e conquistas dentro de campo como o principal meio para essa ascensão. O problema dessa visão é justamente a dificuldade de conciliar isso com o papel de formador, onde os treinadores acabam ‘‘sacrificando’’ a formação dos jovens em mercê da possibilidade de ganhar jogos ou títulos.
Então, apesar de entender que muitos dos treinadores de base no Brasil estão recebendo suas primeiras oportunidades e anseiam pôr em prática os conhecimentos adquiridos ao longo de suas formações, os treinamentos devem ter como eixo central a formação do jogador. De nada adianta um treinador empilhar títulos nas categorias de base se os atletas não chegarem ao profissional capacitados e bem desenvolvidos.
É preciso escolher entre o desejo e a razão. O desejo de colocar em prática suas preferências pessoais e ganhar a qualquer custo e a razão de formar e preparar o jogador a partir daquilo que ele precisa, respeitando quem ele é. Se o treinador não consegue colocar a razão acima do desejo, dificilmente poderá ser um formador.
Texto de Agildo Medeiros Neto
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