Este texto, de caráter reflexivo, surgiu a partir da repercussão do caso do jogador francês Paul Pogba. No dia 29/02/2024 o jogador foi suspenso do futebol por um período de quatro anos, por doping. Porém, o intuito aqui não é discutir os motivos e consequências dessa decisão, mas refletir sobre alguns discursos que surgiram em relação ao que o jogador poderia ter sido.
Quantas vezes ouvimos alguém dizer ou nos pegamos pensando que tal jogador poderia ter sido maior do que foi? ‘‘Poderia ter se dedicado mais, poderia ter tido mais constância e regularidade, poderia ter ido para time X ao invés de time Y, teria sido melhor aproveitado por tal treinador’’. No fim, é um pensamento quase que inevitável, sobretudo quando se trata de jogadores de nível mundial, mas será que essas questões devem definir os sucessos e insucessos de toda uma carreira, ou melhor, de toda uma vida?
Por mais que o exemplo utilizado tenha sido de um jogador do mais alto nível, que chegou a ser peça chave no título mundial de seu país, podemos estender essa reflexão para a realidade do nosso futebol. Quantos atletas brasileiros não foram rotulados como ‘‘fracassados’’ por não atingir as expectativas de terceiros?
Vivemos em um mundo onde as comparações são rotineiras, assim como a lógica de produção em larga escala. Assim sendo, o futebol não fica imune a essa realidade. Não é raro vermos as pessoas comparando jogadores a partir de métricas como gols marcados, números de assistências, números de títulos, os times em que jogaram, etc. O grande problema em si não está em realizar esse tipo de comparação, está em desmerecer e desvalorizar o jogador que sai ‘‘derrotado’’ do comparativo.
Será que os aplausos e elogios devem ser direcionados só para aqueles que atingem a seleção nacional? Ou para os que chegam aos grandes centros do futebol mundial? Ou para aqueles que se tornam destaque ou se estabelecem nos grandes clubes do país? Se assim for, estaremos diminuindo as carreiras e trajetórias da grande maioria dos nossos futebolistas.
Um dos contextos que essa reflexão se faz mais necessária é as categorias de base. Durante os campeonatos de base, como a Copinha, por exemplo, é normal que os torcedores projetem naqueles jovens a esperança de dias melhores para seus clubes. Projetam novos craques, projetam soluções para problemas existentes, projetam uma potencial venda e se frustram se a realidade do futuro não corresponder ao que foi projetado. Assim, jogadores são cada vez mais menosprezados e rotulados como fracassados, apenas por não atingirem as metas projetadas por outras pessoas.
Reprodução Record
Porém, o que as pessoas que optam pelo menosprezo e rotulação esquecem, é que por trás de cada jogador, está uma pessoa que tenta vencer na vida e conquistar o seu lugar ao sol. É importante lembrar que grande parte dos futebolistas brasileiros provém de contextos de vulnerabilidade social e econômica, tendo no futebol a esperança de ascender e se emancipar social e financeiramente.
Portanto, antes de achar que um jogador fracassou, simplesmente por não ter atingido aquilo que esperavam dele, lembre-se que existe ali um ser humano que carrega consigo toda uma trajetória de vivências, experiências e dificuldades. Comecemos a respeitar e valorizar a beleza do singular, pois o que para muitos pode parecer pouca coisa, na verdade significa a conquista e a realização do sonho de muitos outros. Ao invés de pensarmos em o que aquele jogador poderia ter sido, valorizemos aquilo que ele é, deixando de lado as falsas ideias de insucessos.
Texto de Agildo Medeiros Neto
O FootHub acabou de lançar a turma 7 do curso Executivo de Futebol, um curso que reúne uma série de especialistas no tema, sendo profissionais que atuam na Indústria do Futebol, e que irão apresentar o verdadeiro manual de atuação desse gestor que possui a função mais importante do Departamento de Futebol. Clique aqui e saiba mais!